Na tentativa de driblar o trânsito caótico da cidade de São Paulo, formas alternativas de transporte coletivos e individuais são uma boa pedida. A gestão atual da prefeitura de São Paulo, tentando vencer esse desafio, vem dando incentivo às bicicletas como meio de locomoção, ampliando a malha cicloviária da cidade e aprovando projetos de incentivo para sua utilização. O esforço para fazer as bicicletas serem atrativas já rendeu frutos: o número de paulistanos utilizando bicicletas cresceu 50% em 2014, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope.

Como forma de oferecer maior acessibilidade e facilidade aos ciclistas, está sendo realizado um projeto liderado pelo professor do curso de Ciência da Computação e PhD em Computer Science Fábio Kon para a criação do aplicativo BiciGuia, no CCSL (Centro de Competência em Software Livre, do IME-USP). Inserido em um grande projeto que ainda aguarda o financiamento da Fapesp, o BiciGuia é uma das vertentes que surgiu independentemente desse patrocínio financeiro e objetiva melhorar a mobilidade de ciclistas na capital paulista.  Sua elaboração e desenvolvimento atual conta com a participação de professores, mestrandos, alunos do IME e de outras unidades da USP. Por sua vez, o projeto maior em que o BiciGuia está inserido, tem expectativa de unir mais de 40 pesquisadores.

O objetivo central do BiciGuia é servir de ferramenta para facilitar a mobilidade dos ciclistas pela cidade de São Paulo, aplicando conceitos de internet do futuro (resumidamente, baseia-se na premissa de ser uma rede mais eficiente, com maior infraestrutura e segura para os usuários). A ideia do aplicativo associa-se à tecnologia, frisando o conceito de smart city, ou “cidade inteligente”, termo que designa cidades que utilizam tecnologias digitais para prover bem estar e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.

Diego Araújo, mestrando orientado pelo professor Fábio Kon, é um dos colaboradores do projeto e responsável por criar o algoritmo que traçará as rotas do aplicativo de maneira inteligente. “Já existe um grupo desenvolvendo, junto ao professor Fábio um aplicativo para melhorar a mobilidade dos ônibus. [...] Como tem muito carro na cidade, nós temos que encontrar alternativas para contornar isso (esse excesso de carros), e uma delas é a bicicleta”, diz Diego.

O aplicativo, além de beneficiar os ciclistas, agrada também a prefeitura da cidade. “Foi uma combinação de interesses [...] uniu o IME e a prefeitura, em uma parceria não formal, para melhorar a mobilidade urbana. E escolhemos bicicleta porque parece uma solução boa pra mobilidade: não ocupa muito espaço, não utiliza combustível fóssil e é de baixo custo”.

O BiciGuia será um aplicativo de software livre (modelo que permite ao usuário executar, copiar, distribuir, estudar, mudar e melhorar o software) e promete ser de fácil uso. Sua ideia central é mostrar rotas para transportar o usuário de um ponto até o outro levando em consideração não apenas a distância e o tempo, como fazem os outros aplicativos do mesmo ramo, mas considerando lugares de mais fácil acesso, com topografias mais planas, com menos trânsito e evitando a Marginal, e, principalmente, considerando as ciclovias da cidade na elaboração da rota. Ainda mais importante do que isso, a preferência do ciclista será levada em consideração. Se o trânsito não for um problema para o usuário do aplicativo, o algoritmo não considerará essa variável. Nesse sentido, o BiciGuia surge como uma alternativa para traçar o melhor caminho possível para o ciclista, considerando suas prioridades individuais.

Diego pensa em enriquecer o aplicativo com outras ferramentas, como, um contador de calorias perdidas e até previsão do tempo para o ciclista. Entretanto, ele ressalta: “Não adianta ter só um aplicativo legal, precisamos de estímulo da prefeitura para que as pessoas comecem a usar mais a bicicleta, e usar com segurança, com uso de equipamentos de proteção. O aplicativo é só algo que estamos implementando pra tentar melhorar, ele é apenas uma das frentes de trabalho”.

O BiciGuia tem grandes indícios de ser gratuito para smartphones e é estimado que a versão beta do aplicativo esteja pronta ainda no final deste semestre de 2015.