ISSN 2359-5191

03/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 63 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Tem início construção do Telescópio Gigante Magalhães
Com custo de US$ 1,05 bilhão e expectativa de início das operações para 2021 consistirá de sete dos maiores espelhos do mundo
Modelo computadorizado do telescópio mostra a estrutura de oito espelhos.

Com custo de US$ 1,05 bilhão e expectativa de início das operações para 2021, o Telescópio Gigante Magalhães começou a ser construído no início de junho de 2015 no deserto do Atacama, no Chile. Com a cooperação de 11 organizações contribuintes em cinco países, a divisão de tempo de observação será proporcional ao valor investido por cada uma.

Maior do que qualquer telescópio óptico atualmente em operação, o Telescópio Gigante Magalhães consistirá de sete dos maiores espelhos do mundo, com 8,5 metros de diâmetro cada, e possibilitará a obtenção de imagens com resolução dez vezes maior que as do telescópio espacial Hubble, que tem a vantagem de não sofrer interferência da atmosfera terrestre. Para compensar a desvantagem de se construir o telescópio em terra, é usada a chamada óptica adaptativa, que faz uso de um sistema de lasers para corrigir os erros derivados da interferência atmosférica. Cada um dos sete espelhos a serem utilizados no projeto leva dois anos para ser moldado e resfriado e mais três até ser polido e tratado como exigem as especificações de construção.

O GMT (sigla em inglês para o nome do telescópio) é previsto como primeiro de uma nova geração de supertelescópios ópticos a entrar em operação na década de 2020. O Thirty Meter Telescope, a ser construído no Havaí, e o European Extremely Large Telescope, que também será construído no Chile, têm conclusão prevista para 2022.

 

Participação brasileira nos grandes telescópios

O Telescópio Gigante Magalhães não marca a primeira vez em que uma instituição brasileira participa de um consórcio como esse – a Universidade de São Paulo já tem, por exemplo, acesso a uma parcela do tempo de observação dos observatórios SOAR e Gemini, construídos em consórcios similares. A principal distinção está na escala dos projetos – o GMT custará cerca de cinco vezes o orçamento dos outros dois telescópios citados juntos, dos quais US$40 milhões vêm da Fapesp para uso da USP e de outras instituições paulistas.

Esse investimento do Brasil garante 4% das noites de observação com o telescópio, um total de cerca de duas semanas por ano de uso por pesquisadores ligados à Fapesp. Astrônomos e astrofísicos do IAG-USP e IFUSP estão entre os beneficiados por essa oportunidade. O cientista coordenador do projeto no Brasil, João Steiner, professor do IAG, conta: “O GMT colocará não apenas o IAG/USP mas toda a comunidade paulista na vanguarda da pesquisa astronômica. O financiamento do GMT foi feito pela Fapesp e, por ser vultoso, não faz sentido ser restrito a apenas uma universidade.”

 

Grandes expectativas

A fidelidade e nitidez visual do novo telescópio cria um cenário promissor para o futuro das observações astronômicas, permitindo, por exemplo, a observação de planetas com tamanho similar à Terra em volta de estrelas próximas do sistema solar, assim como a observação de pequenas distorções no espaço causadas pela presença de buracos negros.

Além das melhorias em qualidade de imagem e nitidez, o GMT também possibilitará, devido à sua capacidade excelente de captar luz, a observação de corpos cósmicos que emitem luz fraca demais para serem detectados com os instrumentos atuais. Galáxias e estrelas muito antigas e distantes poderão ser observadas, algumas pela primeira vez, iluminando algumas questões sobre o estado do Universo em suas origens.

Um dos maiores focos das pesquisas do Telescópio Gigante Magalhães será o campo dos exoplanetas, ou seja, aqueles descobertos orbitando estrelas que não o Sol. Desde 1992, foram descobertos quase 2000 deles, mas até hoje é muito difícil observá-los diretamente, algo que o GMT facilitará muito. Para muitos pesquisadores, a descoberta de planetas similares à Terra em outros sistemas estelares é o primeiro passo para encontrar-se vida fora do nosso planeta.

Questionado sobre o potencial do GMT, Steiner resume: “Quando em pleno funcionamento, fará com que a próxima geração de astrônomos tenha as melhores ferramentas do mundo em suas mãos para pesquisar a formação das galáxias e a natureza da energia escura e da matéria escura, assim como caracterizar planetas habitáveis.”

 

Chile: lar de observações astronômicas

O Telescópio Gigante Magalhães será apenas mais um de cerca de 30 observatórios já existentes no Chile – o deserto do Atacama, com seu ar rarefeito e ausência quase completa de nuvens por mais de 300 dias por ano, assim como sua distância de centros urbanos e poluição luminosa, naturalmente tornou-se um destino extremamente atraente para a construção de observatórios astronômicos.

Em 2011, o Chile possuía 42% de toda a infraestrutura global de telescópios. Estima-se que, até 2018, esse número suba para 70%. A vantagem geográfica do país andino permitiu que pesquisadores chilenos ganhem espaço nos observatórios construídos no país – o SOAR, por exemplo, frequentemente é motivo de cooperação entre astrônomos chilenos e pesquisadores do IAG-USP, onde existe uma sala de link direto com o observatório no Atacama.

Além de Brasil e Chile, outros três países participam, por meio de instituições de pesquisa e universidades, do consórcio de construção e operação do GMT: Austrália, Coreia do Sul e Estados Unidos.  

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