ISSN 2359-5191

12/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 73 - Sociedade - Faculdade de Saúde Pública
Políticas para homens ajudam a diminuir violência contra mulher
Grupos reflexivos com autores de violência ajudam a combater número de agressões em São Paulo
Reeducação de homens autores de violência é fundamental para combater o problema | Fonte: Brazlândia

Quase dez anos depois da implantação da Lei Maria da Penha, que representou um avanço no combate à violência contra a mulher, a medida não foi completamente aplicada. Uma das questões que ainda caminha para ser efetivada trata da reeducação do agressor, que também é pouco implementada no país. Nesse sentido, pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP aponta que o trabalho com homens autores de violência é efetivo para a redução da violência contra a mulher. O estudo também afirma a necessidade de se trabalhar não só com as vítimas, mas também com os autores, para quebrar o ciclo de violência doméstica que coloca o Brasil como 7º país com maior número de feminicídios no mundo.

O pesquisador Tales Mistura aponta que existe a necessidade de lidar com o problema na sua raiz, ao desconstruir o esteriótipo de gênero: “Estamos vivendo uma crise da masculinidade, no sentido de que o homem sempre se projetou como provedor da casa, chefe da família, e hoje em dia isso não corresponde mais à realidade, porque a mulher também ocupa essas posições”, explica o pesquisador. A falta de espaços de convivência para homens, onde eles possam se abrir e compartilhar suas incertezas, faz com que não saibam lidar com situações de embate com as parceiras sem partir para a agressão: “O homem não foi educado a discutir, argumentar, mas sim a brigar, impor. Quando não tem mais o que dizer eles recorrem à violência”, aponta Mistura.

A intenção do estudo não é justificar os atos violentos, mas entender porque eles ocorrem e buscar revertê-los através da reflexão: “Muitos deles não acham que cometeram violência, eles não se identificam com o esteriótipo de agressor”, afirma o pesquisador. De acordo com sua visão, é preciso observar que as taxas de feminicídios são altíssimas no Brasil, mesmo com todo o trabalho realizado pela Lei Maria da Penha com as mulheres, o que reflete uma carência de atendimento para os homens autores dessa violência.

A pesquisa de Mistura é baseada de um grupo reflexivo, desenvolvido pela ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde e com atuação desde 2009. Uma das funções primordiais desse grupo é ser um espaço de acolhimento para os homens, buscando apresentar novas saídas não violentas para os conflitos. Cada grupo é formado por no máximo 15 homens autuados pela Lei Maria da Penha, que participam de encontros semanais por duas horas. Os acusados são orientados pelo juiz a comparecer aos encontros, para que sua pena tenha uma possibilidade de atenuação, caso sejam condenados.

Para a realização da pesquisa, foram entrevistados sete homens que tiveram passagem pelo grupo, com o objetivo de analisar até que ponto a experiência reflexiva havia atingido seu propósito. Segundo Mistura, foi observado um aumento do diálogo deles com as parceiras: “Eles se colocam mais flexíveis na relação, e aceitam que não são ‘menos homens’ por isso”, revela. Apesar dos pontos positivos, não foram conseguidos avanços para todos: “Em alguns deles não houve a mínima desconstrução. Eles ainda acham que a mulher é inferior, mas passam a fazer um uso instrumental do grupo, no sentido de entender melhor a lei e usar isso pra se precaver no futuro”, aponta o pesquisador.

Essa distância entre os resultados atingidos em um mesmo grupo acontecem por conta do contexto em que cada homem está inserido: “O grupo beneficiou a todos, porém de acordo com o potencial de cada um. Alguns estão em situação de vulnerabilidade, então é bem mais difícil porque vai além da questão de gênero”, explica Mistura. Apesar dessas diferenças, a intenção da pesquisa é demonstrar a efetividade desse tipo de abordagem para que ela seja fortalecida como política pública, e possa assim ajudar na redução do alto índice de violência contra a mulher.

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