Um estudo do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) realizado pelo laboratório comandado pela professora Marilene Lopes, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, apontou que o crescimento do glioblastoma, tipo mais comum de tumor no cérebro, está diretamente relacionado a problemas de cognição e reconhecimento de objetos.
A pesquisa foi realizada com ratos e seguiu a linha do laboratório de investigar o glioblastoma – câncer de grau 4 de célula da glia, o mais desenvolvido e agressivo.
“Com o crescimento da massa tumoral, estruturas relacionadas a processos cognitivos são comprimidas. Além disso, o tumor secreta substâncias que podem afetar a cognição”, explica a professora. O glioblastoma pode atingir um tamanho expressivo, o que prejudica ainda mais o cérebro dos animais.
Conforme esclarece a pesquisadora, “esses animais [ratos nude] possuem uma característica inata de explorar o ambiente onde se encontram”. Na etapa de treino, os ratos (um grupo com tumor em tratamento e outro com o tumor em crescimento) são colocados numa caixa com dois objetos idênticos. Eles, então, exploram cada objeto por um determinado tempo, que é cronometrado. Já na etapa de teste, um dos objetos é trocado por outro de formato distinto e novamente o tempo dispendido em cada objeto é medido. “O rato em tratamento explora muito mais o objeto novo, ele lembra que existiam dois iguais. Ele tem um desenvolvimento cognitivo muito melhor”, diz Lopes.
O tratamento é feito com um peptídeo sintético, fruto de outro estudo do laboratório, que impede a ligação entre duas proteínas, a príon celular (PrPc) e a HOP, processo vital para o desenvolvimento tumoral. Esse peptídeo, chamado HOP230-245, mimetiza a terminação da HOP que se liga à PrPc, competindo com a própria HOP a fim de evitar a ligação. A substância é dada diretamente na região intratumoral dos ratos e apresentou resultados promissores.
Disfunções cognitivas são extremamente comuns em pacientes com câncer cerebral e a área ainda necessita ser mais estudada. Os testes in vivo do laboratório indicam que o reconhecimento de objetos é uma estratégia viável para identificar se tratamentos contra o glioblastoma estão sendo bem-sucedidos ou não.