ISSN 2359-5191

18/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 131 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Geociências
Catedral da Sé sofre desgaste no revestimento das rochas
Pesquisa analisa impactos naturais e humanos no imponente templo religioso localizado no centro de São Paulo
Catedral da Sé localizada no centro de São Paulo (Foto: revistafestaviva)

Com o intuito de estabelecer métodos de conservação que não fossem destrutivos à monumentos edificados, Diego Machado traçou a linha de pesquisa que resultou na sua dissertação de mestrado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo  (IGc/USP). A Catedral Metropolitana da Sé foi escolhida como foco principal devido a sua importância histórica para a cidade desde o início do século XX e à sua localização no abandonado centro de São Paulo.

A pesquisa foi desenvolvida depois de uma iniciação científica que se deu no Parque da Luz dentro do grupo de pesquisa do NAPE/GeoHereditas – Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo orientado pela professora Eliane Del Lama. O grupo tem duas frentes de trabalho, uma que se concentra nos patrimônios naturais e outra nos culturais. Machado enveredou no caminho cultural ao buscar promover o geoturismo urbano e preservação do patrimônio do monumento de tamanha expressão como a Catedral.

Rochas, basicamente, são formadas por minerais que estão cristalizados e coesos, após combinações físicas, químicas e bioquímicas. No entanto, pode haver dissociação desse material, ocasionando degradação, fenômeno conhecido na geologia como intemperismo. A fim de perceber qual era o estado das rochas da igreja, foram utilizados instrumentos não invasivos, como o ultrassom, o espectofotômetro e a lanterna de radiação ultravioleta. O primeiro calcula a distância e o tempo que o pulso percorre do emissor até o receptor, mostrando a qualidade interna da rocha através do cálculo desta velocidade. Nesse caso, quanto maior a velocidade, mais coeso se encontra o material; o segundo indica a cor da rocha em um parâmetro numérico para dizer se houve escurimento e/ou engorduramento da estrutura; já o terceiro analisa em diferentes comprimentos de ondas, não visíveis nas intervenções anteriores.

Importância histórica

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora de Assunção de São Paulo foi construída por iniciativa de dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo. Embora ela só tenha sido inaugurada, ainda inacabada em 1954, o início da construção é de 1913. O monumento de mais de 5 mil metros quadrados foi revestido por granito, pedra que simboliza os bandeirantes, numa clara afirmação do poder  economia cafeeira do século XX. Existia um grupo social que não era reconhecido como influente, embora estivesse cada vez mais rico com a exportação do produto. A construção de uma igreja não poderia ser mais verossímil, afinal era uma sociedade extremamente religiosa, assim como a população brasileira na época.

Nenhuma esfera governamental é responsável pela Catedral, somente a Igreja, embora ela esteja no centro de São Paulo que é tombado pela prefeitura. Durante muito tempo o abandono foi generalizado, até que em 1999, houve uma intervenção que custou 20 milhões de reais e deixou o templo após três anos fechado. Hoje se pode dizer que em termos de geoconservação, ela está bem. Entretanto, Machado alerta “se a manutenção for regular, não haverá necessidade de restaurações tão custosas e demoradas.”

A catedral está suscetível a inúmeras agressões estruturais demonstradas nas análises da pesquisa. Na parte externa, poluição, chuvas ácidas, pichações e urina que causa o fraturamento das rochas, devido a cristalização do sal que expande e fratura-na de dentro para fora. Na parte interna, algumas esculturas foram danificadas por gordura, por quebra e pelo uso de vela que, ao ser consumida, danifica a pedra.

Apesar de não ser muito desenvolvida no Brasil, a área de Geologia Eclesiástica visa estudar as rochas aplicadas nos revestimentos e nas funções litúrgicas dos templos, seja por dignidade ou por embelezamento. “No final do mestrado, fizemos um curso de Caracterização e Conservação da Pedra na UFMG junto com conservadores e restauradores do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (IPHAN). Uma das maiores reclamações deles foi a falta de conhecimento técnico sobre materiais pétreos",  afirma Diego. Dessa forma, eles tratam as rochas como se fossem iguais, ignorando as especificidades que cada uma tem. “A ideia é promover cada vez mais trabalhos, não só em geologia eclesiástica, mas em cemitérios e em outros monumentos para contribuir para a conservação do patrimônio nacional”, conclui o pesquisador. 

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