ISSN 2359-5191

18/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 15 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Discurso classista de sindicatos esbarra nas dificuldades de negociação com empresas
Mestrado analisou ações do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e sua relação com a General Motors
Assembléia de funcionários da General Motors. Foto: Roosevelt Cássio/Acervo do Sindicato

A ação sindical tem forte relação com a política brasileira, demonstrada inclusive pela figura do ex-presidente Lula, que foi representante sindical dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo. Diante da ascensão nos anos 2000 do Partido dos Trabalhadores ao poder, a pesquisadora Thamires Cristina da Silva se propôs realizar um estudo de caso sobre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos em seu mestrado apresentado a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade São Paulo.

Silva mergulhou no universo do sindicato dos metalúrgicos e, em especial, sua relação com a multinacional General Motors, buscando problematizar a atuação sindical e "desconstruir as tipologias de sindicalismo combativo e propositivo". Para ela, esses termos limitam a análise. "Apesar de alguns pesquisadores classificarem o sindicato dos metalúrgicos como combativo e classista, eu pude verificar que há limites nesse sindicalismo classista", explica.

No caso do sindicalismo classista, a ação, preferencialmente direta (em de vez institucional), tende mais para o conflito do que para a negociação. Além disso, há uma forte orientação política de esquerda anticapitalista. Silva identificou 56 tipos de ações do sindicato, entre greves e negociações coletivas, que enfrentaram forte resistência da General Motors, esbarrando no discurso classista – muitas vezes incapaz de se realizar na prática.

"Quando você olha para a realidade é muito mais complicado, não adianta só colocar uma premissa política", diz a pesquisadora. Ela exemplifica com o caso do banco de horas ocorrido em 2008. Esse embate aconteceu na cidade de São José e envolveu diversos atores, entre eles a prefeitura e a General Motors, cujo plano era impor o banco para acabar com as horas extras. "O sindicato se colocou contra e sua estratégia foi publicizar uma campanha contra a iniciativa, envolvendo toda a sociedade".

Durante as negociações entre empresa e sindicato, o piso salarial também foi colocado em disputa: a companhia norte-americana deseja rebaixar de R$ 1.700 para R$ 1.100. "O sindicato não aceitou essa diminuição, mas no final o valor ficou em R$ 1.207, ou seja, houve um rebaixamento", diz Silva. Para a pesquisadora, há uma perda no final das negociações que gera um desgaste político "imensurável" por causa de um "posicionamento do sindicato um pouco mais radical".

"Até mesmo para o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, que se autodenomina classista e combativo, as dificuldades de negociação apontam para a flexibilização de direitos", escreve.

Por outro lado, o posicionamento mais radical do sindicato, apesar de impor desafios para uma eventual legitimação diante da sociedade, contribui para uma politização da classe trabalhadora. "Tentei mostrar sempre os lados antagônicos presente nas ações, não basta o discurso ser classista", aponta Silva.

A pesquisadora também explorou a tendência do sindicato, associado ao PSTU e a CSP-Conlutas (Central sindical e popular), de se opor à visão do Partido dos Trabalhadores (PT). "Quando o PT começa a governar nos anos 2000, ele passa a ter uma ação muito voltada à institucionalidade. Vários membros que atuavam na CUT passam a compor quadros do PT no governo e se instrumentaliza", explica Silva. Segundo ela, a crítica que o sindicato faz a CUT é que ela abandonou suas premissas de classe e uma orientação mais socialista.

A pesquisadora mergulhou na realidade de São José dos Campos, tendo passado um mês na cidade. Ela conta que, para o desenvolvimento da tese, participou de reuniões do sindicato, conversou com trabalhadores e pode acompanhar de perto o dia a dia do sindicato.

"Eu percebi que, no sindicato, as pessoas são muito mobilizadas e engajadas, além de parceiras. Não presenciei nenhum micro-conflito", comenta. Silva não teve a mesma abertura na General Motors. Ela conta que não conseguiu fazer observações de campo dentro da fábrica e nem conversar com gerentes da empresa.



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