ISSN 2359-5191

27/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 46 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
IAG integra novo levantamento astronômico que mapeará a parte sul do céu visível da Terra
Mapeamento será feito através do telescópio T80-Sul, cujos dados começarão a estar disponíveis em 2017
Cerro Tololo, Chile. O telescópio T80-Sul já foi instalado (canto esquerdo da foto) e encontra-se em fase de testes. / Foto: Alberto Molino

Um projeto em curso no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP) tem como objetivo mapear parte do Universo observável a partir do Hemisfério Sul da Terra. O S-Plus (Southern Photometric Local Universe Survey), como é chamado, fará um dos maiores levantamentos astronômicos do Hemisfério Sul já realizados até então, graças ao novo telescópio T80-Sul, que foi instalado recentemente no Cerro Tololo, Chile. Já operacional, porém ainda em fase de testes, o telescópio divulgará os dados obtidos através dos chamados data releases, que ficarão disponíveis para toda a comunidade.

Um dos mais recentes levantamentos astronômicos de grande impacto foi o SDSS (Sloan Digital Sky Survey), realizado no Hemisfério Norte. O S-Plus assemelha-se ao SDSS, porém conta com o diferencial de possuir mais bandas: ao todo, o S-Plus possui um total de 12 bandas fotométricas, enquanto o SDSS possui 5. Isso faz com que a fotometria (análise da luz emitida pelo objeto estudado) do S-Plus seja mais completa do que a do SDSS, apesar de o último ter o diferencial da espectroscopia (estudo da luz visível, quando separada em suas componentes), que não estará presente no S-Plus. É o que explica Claudia Mendes de Oliveira, coordenadora do grupo do IAG no projeto: “A diferença [entre o SDSS e o S-Plus] é que o SDSS cobre 5 bandas. Nós vamos cobrir as mesmas 5 bandas e outras 7 bandas mais estreitas.  E essas 7 bandas ‘extras’ são muito importantes porque elas fornecem informações que as outras não fornecem. Então, na parte de fotometria, o S-Plus é mais completo, mas por outro lado, o Sloan tem a parte de espectroscopia que o S-Plus não tem”, afirma. “Com um número maior de bandas, é possível obter informações mais específicas e mais precisas sobre determinados parâmetros físicos das estrelas, como por exemplo, os elementos químicos que as compõem, sua temperatura e sua localização”.

 Imagem da galáxia de Centaurus A, obtida com o telescópio T80-Sul. Foto: arquivo pessoal


Outro ponto importante é que, com 12 bandas (filtros), o S-Plus será capaz de estimar com mais precisão os chamados redshifts (desvio para o vermelho, em tradução livre), medidos observando-se a luz emitida pelas estrelas e a partir dos quais se pode obter sua localização aproximada – quanto maior o desvio para o vermelho da luz que a estrela emite, mais distante ela está.


Projetos Futuros

O S-Plus, na verdade, pode ser considerado um complemento de um levantamento maior chamado J-PAS (que contará com um total de 59 bandas), cujo objetivo final é realizar um mapeamento 3D completo do universo observável a partir da Terra. O projeto é uma colaboração entre Brasil e Espanha, e tem previsão para ser concluído em 2019. A expectativa é que, a partir dos corpos celestes observados pelo J-PAS, seja possível também ter um conhecimento mais concreto a respeito da matéria escura, um dos maiores mistérios da astrofísica atual, e que está relacionada à expansão do Universo. A matéria escura é um tipo de matéria que interage muito pouco com as partículas de luz (fótons), o que na prática a torna “invisível”. Dessa forma, ela só consegue ser detectada através do efeito gravitacional que emite, e sua composição permanece desconhecida.  

O telescópio do S-Plus,T80-Sul, terá como contrapartida no Hemisfério Norte o T80-Norte, que realizará um levantamento semelhante, chamado J-Plus. O J-Plus será uma espécie de J-PAS em escala reduzida, já que ambos mapearão a mesma área do céu (porém o J-Plus conta com apenas 12 bandas, enquanto J-PAS irá dispor de 59 ao todo).  “A ideia é que no futuro, quando todos esses levantamentos estiverem funcionando em ritmo de cruzeiro, nós possamos unir esforços para, inclusive, emitir os data releases de maneira coordenada”, explica a coordenadora do projeto Claudia Mendes de Oliveira.

O T80-Sul foi financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e o prédio do telescópio foi financiado pelo governo federal através do Observatório Nacional. Por ser um telescópio robótico, ele poderá ser mais facilmente utilizado por alunos nas escolas, como uma forma de aproximar as crianças da astronomia. Uma equipe do projeto trabalhará com a redução dos dados coletados, para que os usuários possam analisar as informações disponíveis mais facilmente. Além da USP, outras universidades estão envolvidas na fase de teste dos instrumentos, incluindo a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O primeiro data release está previsto para o ano que vem, 2017.

Para Claudia Mendes de Oliveira, o mais interessante a respeito dos resultados que serão obtidos com o S-Plus é justamente o fato deles não serem completamente previsíveis: “O mais interessante dos surveys (levantamentos astronômicos) é que não sabemos o que vamos descobrir. Mas será muito interessante para a procura de estrelas de baixa metalicidade (as primeiras estrelas do universo) e para o estudo da evolução de galáxias próximas. No hemisfério sul, não existe um survey desse tipo então será possível a identificação de novos objetos astronômicos, como estrelas variáveis, supernovas e aglomerados de galáxias.”

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