ISSN 2359-5191

29/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 48 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Pesquisa explora patrimônio geológico de Bertioga
Resultados podem colaborar na preservação de fortificações e geossítios
Praia de Itaguaré, em Bertioga, um dos locais em que a pesquisa foi realizada. Fonte: Vanessa Mucivuna.

Vanessa Costa Mucivuna, pesquisadora do Instituto de Geociências da USP, está realizando em seu mestrado uma investigação a respeito dos pontos de interesse geológico existentes em Bertioga, no litoral de São Paulo. No mesmo trabalho, sob orientação da professora Maria da Glória Motta Garcia e coorientação da professora Eliane Aparecida Del Lama, a pesquisadora também analisou as fortificações (obras construídas com o propósito de proteger uma região) existentes no litoral paulista, todas concentradas na região da Baixada Santista.

Como não existe grande variedade de publicações de cunho geológico que tratem da região estudada, Vanessa realizou algumas entrevistas com especialistas que já trabalharam no local, com o propósito de inteirar-se sobre pontos que poderiam se enquadrar como patrimônio geológico e que deveriam, portanto, ser investigados. Também foram analisados mapas geológicos e imagens de satélite para averiguar quais rochas e estruturas poderiam ser encontradas nesses locais e, assim, áreas com potencial interesse geológico foram selecionadas.

Patrimônios naturais e construídos

Com a realização do trabalho de campo nas áreas escolhidas, Vanessa encontrou, então, um total de 12 pontos de interesse geológico. Todos eles foram avaliados através de dois métodos diferentes: o primeiro, do professor Ricardo Fraga Pereira, é nacional e adaptado de diversos outros métodos europeus. Já o segundo, do professor português José Brilha, foi adotado por ser o mais recente e por ser base do método utilizado pelo Serviço Geológico Brasileiro para quantificação do Patrimônio Geológico Nacional. Além disso, ele divide o valor do patrimônio geológico em: Científico, Educativo e Turístico.

A partir da identificação de tais pontos, mecanismos para a preservação deles podem ser criados de acordo com as características de cada um. Dos 12 pontos selecionados, oito são definidos como patrimônio geológico de interesse científico (são os geossítios), três são de interesse educativo e um é de interesse turístico - esses quatro são chamados de sítios de geodiversidade. Além disso, todos esses são pontos-chave da história geológica da região, e o registro deles pode colaborar também para os estudos que posteriormente serão realizados por demais pesquisadores no litoral de São Paulo.

Com relação às fortificações presentes na Baixada Santista, a pesquisadora constatou que das 18 que antigamente existiam no litoral, hoje apenas sete encontram-se preservadas - cinco no município de Guarujá, uma em Praia Grande e uma em Bertioga. As demais 11 se perderam de diversas formas: algumas foram demolidas para darem lugar a casas ou cidades, outras foram negligenciadas e, com isso, acabaram sendo tomadas pela vegetação local, entre outros motivos.

Vanessa também identificou os tipos de rochas que compõem os fortes estudados. Com isso, conseguiu relacionar as rochas que existem na região com as utilizadas no período de construção deles (algo que ocorreu entre os séculos 16 e 20), afinal, logo no início da colonização brasileira, não eram buscadas rochas em outros países para fazerem parte dessas construções devido à grande oferta que existia na própria região e também aos altos custos de transporte. Além da importância do estudo histórico, a identificação dos tipos de rochas utilizadas nas fortificações também é útil para a criação de formas específicas de conservação de cada uma delas.

Conhecer e preservar

Um problema que, segundo a pesquisadora, contribui para a degradação dos geossítios, sítios de geodiversidade e dos fortes é o fato da maior parte das leis de preservação existentes abordarem a fauna e a flora, e deixarem o solo, as rochas ou a paisagem de lado. “Em Bertioga, mais de 70% da área do município é unidade de conservação, então esperávamos que o patrimônio geológico tivesse uma preservação mais ou menos ideal”, afirma Vanessa. “Mas quando chegamos lá, observamos que as unidades de conservação priorizam as questões de biodiversidade, e deixam os fatores da geodiversidade à parte.”

A pesquisadora acredita que a partir do momento em que os moradores da região souberem do que se trata esses patrimônios, construídos ou naturais, e conhecerem sua importância, passarão a colaborar de forma mais efetiva para a preservação deles. Por isso, Vanessa pretende criar maneiras de levar as informações obtidas em sua pesquisa até prefeituras, onde estratégias de conservação poderão ser pensadas e aplicadas em planos de gestão.

Além disso, as informações também serão encaminhadas a escolas e à sociedade em geral, por meio de folders ou painéis explicativos pensados de forma particular para cada geossítio ou fortificação. Assim, os patrimônios naturais e construídos da região de Bertioga poderão ser protegidos, daqui pra frente, de maneira muito mais eficaz.

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