ISSN 2359-5191

16/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 77 - Saúde - Faculdade de Medicina
Pesquisa busca relação entre HPV e câncer de pele
Pacientes com doença genética rara são usados como modelo para análise de claudinas, um tipo específico de proteína
Representação online do vírus HPV. Imagem: Jornal Panorama

Existem mais de 150 variações do vírus HPV. Algumas delas são bem conhecidas pela sua influência no câncer do colo do útero. Um estudo que está em curso na Faculdade de Medicina da USP, no entanto, procura entender, através da análise de proteínas, como a presença de tipos específicos do vírus provoca alterações relacionadas ao desenvolvimento do câncer de pele.

Como modelo para pesquisa, são investigados pacientes que possuem epidermodisplasia verruciforme, uma doença genética rara que afeta o sistema imune e faz com que a pessoa fique vulnerável ao HPV. Neles, está comprovado que o vírus é capaz de provocar o câncer de pele. Assim, pode-se ter certeza que a influência para o surgimento do câncer vem do micro-organismo, e não apenas da exposição solar.

Dessas pessoas, são retiradas amostras de tecidos cancerígenos e também de pele normal, nas quais é investigada a expressão das claudinas, proteínas de ligação entre as células. Elas constituem as tight junctions, as junções entre as células onde se controla, entre outras coisas, o intercâmbio de substâncias. Também é feita a biópsia de pessoas sem a alteração genética para comparação das claudinas, novamente tanto em amostras de cânceres de pele como de tecido epitelial saudável.

Alterações na quantidade dessas proteínas de ligação podem fazer com que a célula perca o seu poder de adesão e diferenciação, um possível fator de neoplasia (surgimento de um tumor). É uma mudança que ocorre na polaridade da célula, que deixa de reconhecer o que entra e o que sai de um tecido para outro. Isso afeta diretamente a pele, maior órgão do corpo humano.

Esquema representando as tight junctions, onde se localizam as claudinas. Imagem: DBries (tradução: Helena Mega)

“Cada tipo de câncer tem uma expressão diferente quanto ao subtipo de claudinas, então não sabemos o que vamos encontrar”, diz a dermatologista Lana Luiza da Cruz Silva, uma das responsáveis pelo estudo. Ela reconhece que essa é uma pesquisa de longo prazo, que não irá surtir efeito imediatamente. O intuito, ainda assim, é que a análise das claudinas possa ser considerada um procedimento de prognóstico para diferentes tipos de cânceres, avaliando de antemão o seu comportamento.

Mutação e vírus

Foi através da epidermodisplasia verruciforme que, pela primeira vez, identificou-se a capacidade de um vírus causar uma mutação em uma célula, provocando câncer. Por meio dela também se constatou, em primeira mão, a ação cancerígena do HPV.

A incidência da doença não é muito bem documentada. Caracterizada pela presença de verrugas nem sempre malignas, o paciente pode conviver com ela sem nunca receber o diagnóstico. Em outros casos (a estimativa é de 30 a 50%), a ocorrência de infecção disseminada por HPV predispõe o surgimento de cânceres na pele, com uma transformação maligna das lesões.

A médica lembra, contudo, que a exposição solar também deve ser considerada como um influente no surgimento dos carcinomas na pele. Isso porque, mesmo nesses indivíduos, as lesões aparecem nas partes do corpo que são expostas ao Sol. “A epidermodisplasia verruciforme não é uma doença com um fator só. A irradiação solar tem um papel importante”, explica Lana.

A dificuldade no tratamento, assim, surge do fato de que quem possui tal alteração genética costuma ter vários cânceres no rosto ao mesmo tempo, por exemplo, tornando a cirurgia inviável. Quando a lesão é superficial, são usados cremes e terapias não cirúrgicas para tratá-la. Caso contrário, não há solução. Entender a expressão das claudinas, portanto, poderá ser, no futuro, um meio de prever a gravidade do tumor.

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