ISSN 2359-5191

03/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 126 - Economia e Política - Escola Politécnica
Pesquisa da USP aponta problemas na gestão de desastres naturais em Santos
Falta de fiscalização dos órgãos públicos e da sociedade civil é a principal causa de escorregamentos
(Casa sendo construída em área de risco em Santos. Foto: Karolyne Ferreira)

A geógrafa e pesquisadora da Escola Politécnica, Karolyne Ferreira, analisou a gestão de planejamento da cidade de Santos, com enfoque nos riscos de escorregamentos. Apoiada no conceito de resiliência urbana, a pesquisa indicou problemas de integração entre as Secretarias Municipais para solucionar os riscos de escorregamentos.

A pesquisadora teve como base o conceito de resiliência urbana, que é o processo que envolve aprendizado e adaptação, visando à redução de risco de desastres naturais, o retorno às funções desejadas e a melhoria da qualidade de vida da população atingida. O conceito reforça que é possível aprender com os erros e com o que se repete, para que seja possível adaptar-se.

A geógrafa ressalta que, muitas vezes, a Defesa Civil encontra-se sozinha em meio aos acidentes, fazendo-se presente apenas parte de socorro, sem atuar nas práticas de prevenção. Para Karolyne, existe uma falta de articulação entre a defesa civil e outras secretarias em âmbito municipal para que seja possível implementar ações de prevenção de desastres e estes não serem frequentes.

Dessa maneira, o estudo propõe, em primeira mão, que haja essa integração entre as secretarias para que seja possível implementar ações para a prevenção de tragédias. “Um trabalho conjunto das secretarias municipais sob a liderança e conhecimento do prefeito, seria o ideal para colocar em prática algumas medidas eficazes", afirma Karolyne. “Lá em Santos, têm um grupo de controle de ocupações irregulares que conta com 13 pessoas entre representantes do gabinete do prefeito, das secretarias de Segurança, Defesa Civil, de Serviços Públicos, Desenvolvimento Urbano, Assistência Social, Meio Ambiente e da Companhia de Habitação, uma importante medida em consolidação”, completa.

Paralelamente, a pesquisadora afirma que é importante focar na parte de prevenção dos desastres para evitar que ocorram repetidamente, uma vez que já são conhecidas as causas e as características geográficas da região. “Observando que vários desastres no Brasil são sazonais, na região Sudeste principalmente na época das chuvas, levanta essas questões: nós realmente não estamos aprendendo com o erro? Se repete há tanto tempo, a gente não tá tirando aprendizado nenhum disso?”, denuncia.

A geógrafa explica que há um programa de mapeamento de áreas de riscos, o qual calcula o número de casas que não devem ser habitadas, as que podem permanecer e as que devem ser reformadas. Entretanto, para que este seja efetivo, é fundamental reforçar o grupo de fiscalização, visto que novas casas são construídas na mesma área. Além disso, é preciso levar a conscientização dos riscos para toda a população do município, com objetivo de que todos se mobilizem a favor da prevenção e redução de riscos.

Em outro âmbito, Karolyne destaca a necessidade de operações de adaptação, considerando que já existe uma ocupação consolidada e que não é toda área de morro que é inabitável.  Investimentos em obras como escadarias de drenagem, melhoria de serviços de saneamento básico e recolhimento do lixo fazem-se essenciais como alternativa para essas dificuldades.

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(Escorregamento no Morro de Santa Maria - Santos/SP. Foto: Karolyne Ferreira)

Dessa maneira, a pesquisadora acredita que além da integração entre secretarias, as execuções de obras e a orientação da população, é necessário que o governo se responsabilize. Afirma que, na maior parte dos desastres, a culpa é estabelecida apenas à natureza, desconsiderando o compromisso dos governantes. “É preciso ter a percepção que a natureza não é a única culpada dos escorregamentos e eu notava nos veículos de mídia notícias dizendo 'por causa da chuva', 'por causa da ressaca', como se o problema fosse a chuva.", critica. "Chuva tem desde que o mundo é mundo e é muito tênue a linha limite onde é culpa da chuva e onde é culpa da administração.” Assim, faz-se fundamental, principalmente, investimentos e vontade política para que o problema possa ser solucionado.

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