ISSN 2359-5191

10/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 131 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Valor midiático do atleta pode ser determinante em sua carreira e desempenho esportivo
Estudo desenvolvido por professor da USP confirma que a forma como um jogador de futebol é retratado na imprensa pode interferir na performance de sua equipe e na continuidade de sua carreira
Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, os três jogadores com o maior valor midiático do planeta (Imagem: foxsports.com)

Hoje em dia, a vida de personalidades famosas tem ficado cada vez mais exposta. No caso de jogadores de futebol mundialmente conhecidos, não poderia ser diferente. A pesquisa feita pelo professor Ary Rocco, da EEFE-USP (Escola de Educação Física e Esporte), buscou analisar o valor de mídia dos principais futebolistas do mundo e suas consequências na forma como o marketing pessoal do atleta constrói sua imagem na imprensa. 

Como já abordado em matéria a respeito do mesmo estudo citado (link aqui), o objetivo de Rocco foi analisar matérias dos principais jornais de Argentina, Portugal e Brasil sobre Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, respectivamente, os três melhores jogadores de futebol do mundo da última temporada, para determinar assim o valor midiático de cada um e sua influência sobre o desenvolvimento da carreira do atleta. Ao comparar, o professor observou que a imprensa brasileira dá um ‘tratamento de celebridade’ exagerado a Neymar, o que não acontece nos dois outros casos. “O objetivo é diferente de valor de mercado. Messi tem, obviamente, um valor de mercado maior do que o Neymar, mas o brasileiro é mais retratado nos jornais. E é retratado com aspectos mais variados que o Messi ― tem um valor midiático maior”, diz Ary Rocco.

O caso de Neymar, além disso, é uma exceção por apelar muito para o marketing, desde o início da carreira. Segundo Rocco, hoje, um jogador como ele tem um staff (equipe pessoal de marketing) considerável, responsável por traçar uma estratégia de como ele deve montar sua imagem na mídia. Além disso, o departamento de marketing do clube onde joga ainda trabalha com o mesmo objetivo, sempre de acordo com o interesse da imprensa. 

O brasileiro, no entanto, ainda coleciona alguns episódios marcantes dentro e fora de campo onde se envolve em festas e confusões desnecessárias, que prejudicam a imagem e, consequentemente, a carreira do atleta. “Nesse sentido, os episódios não tiram o valor de mídia dele por tudo que representa atualmente, mas ele teria um valor midiático ainda maior se tivesse um comportamento melhor”. O professor ainda conclui: “Quando ele começar a entrar em uma curva esportivamente decadente, por conta da idade, a tendência é que ele tenha um apreço muito pequeno da imprensa caso ele continue não trabalhando essas questões que envolvem mais do que a sua qualidade.”

Ary Rocco relembra o caso do judoca Felipe Kitadai, medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Na oportunidade, após ter ganho a medalha, o atleta a quebrou enquanto tomava banho na Vila Olímpica. Apesar de exaltado pelo feito esportivo, Kitadai foi muito mais citado na imprensa por conta do curioso fato que o envolveu, e sempre de uma forma negativa. Para usar o futebol, Ary compara Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho: enquanto o primeiro, por ter sabido construir sua imagem aliada ao bom desempenho esportivo, ainda aparece positivamente na imprensa, o segundo, apesar do incrível desempenho esportivo que alcançou em sua carreira, teve seu valor midiático afetado ― hoje em dia, é retratado apenas de férias ou procurando algum clube novo.
 
Mesmo que seja comum e necessária a presença de um staff particular para que o atleta possa montar de forma positiva sua imagem, às vezes o próprio marketing particular atrapalha o time para o qual o atleta joga. Rocco lembra o caso da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, quando Neymar ficou mais reconhecido do que já era pelo excesso de postagens em suas redes sociais durante a competição. O professor alega que esse comportamento faz parte do perfil do atleta, mas que também é orientação do seu staff, e que não foi positivo para a Seleção Brasileira, uma vez que o jogador pode perder o foco. E, após a eliminação, o pesquisador lembra de manchetes que se popularizaram e só foram possíveis por conta dessas atitudes: “Seleção Brasileira postou mais em redes sociais do que marcou gols” é um dos exemplos.
 
A Alemanha, campeã do torneio, por outro lado, segundo Ary Rocco, soube trabalhar a questão do marketing dos jogadores. A hipótese que o pesquisador levanta é que a equipe alemã designou intencionalmente a função de postar nas redes sociais, aparecer em momentos descontraídos e interagir com a torcida brasileira a Lukas Podolski, um atacante reserva que mal jogou durante o torneio. Podolski aparecia na maioria das manchetes esportivas na época por conta do seu comportamento midiático, mas não precisava se preocupar com seu desempenho esportivo. Assim, os alemães puderam conquistar os brasileiros com uma estratégia de marketing bem sucedida que não atrapalhou sua seleção em campo.
Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br