“Sei fazer uma receita como ninguém”, brinca Valéria, que tomou
anoréticos por quase dez anos e chegou à dependência. Hoje,
garante ter se livrado deles. “O médico dizia que não serviam mais
para emagrecer. Eu só tomava por vício.”
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Moderadores de apetite (anfetaminas), calmantes
(barbitúricos) e “remedinho” para
diminuir a ansiedade (benzodiazepínicos).
Todos são medicamentos psicotrópicos
e causam dependência. O pior é que
seu consumo tem aumentado nos últimos
anos e avança principalmente entre
as mulheres. A cada dez receitas médicas
do gênero, nove são para
o público feminino. Entre 2001
e 2005, a porcentagem de mulheres usuárias
de anfetaminas dobrou: 2,2% para 4,5%.
O aumento também foi notável
para os benzodiazepínicos: de
4,3% para 6,9% no mesmo período.
Por trás desse crescimento, prevalece
o uso indiscriminado facilitado pela
legislação branda e pelas
irresponsabilidades dos profissionais
da saúde.
Desde o final dos anos 90, o País
já era campeão no uso de anfetaminas.
Argentina e Chile vinham logo atrás,
mas conseguiram diminuir o consumo em mais
de 50% através de leis rígidas
e intervenção de órgãos
públicos. Enquanto isso, no Brasil,
o mercado de psicotrópicos foi ainda
mais acelerado devido aos fracos mecanismos
de fiscalização. Quem fez esse
alerta foi o INCB (sigla em inglês:
Comitê Internacional para Controle
de Narcóticos), entidade ligada à Organização
Mundial da Saúde, em um relatório
divulgado há dois anos.
A falta de controle permite distorções
como a detectada pelo Cebrid (Centro Brasileiro
de Informação sobre Drogas
Psicotrópicas), da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo). Um estudo com
mais de 100 mil prescrições
observou que a maioria dos médicos
(81,5%) dá até dez receitas
de psicotrópicos por ano, média
considerada normal. Por outro lado, existem “profissionais” que
ultrapassaram 1.000 receitas anuais. Nesses
casos se encaixam os esquemas fraudulentos
associados às farmácias de
manipulação e as freqüentes
recomendações de comprimidos
para emagrecer. Os médicos que encabeçam
as prescrições são endocrinologistas,
ginecologistas, cardiologistas e neurologistas.
Os principais motivos que levam as mulheres
ao consultório são: vontade
de perder peso rapidamente e as queixas de
estresse. O uso inadequado da medicação – aumento
das doses por conta própria e/ou ingestão
continuada após o fim do tratamento – causam
dependência e sérios distúrbios
psicológicos.
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