“Quando eu paro de tomar meu calmante predileto, dá até tremedeira.” Usuária
do Orkut
"Quem toma calmante e anfetamina pode achar que é algo fraquinho
ou natural, porque foi feito em farmácia de manipulação.
Muitos médicos não avisam que é um psicotrópico e
o que isso significa.” Sílvia Brasiliano
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“As farmácias e médicos
deveriam ficar alertas, porque quem tem
o vício pode levar à corrupção”,
diz Valéria Perencin, funcionária
da Esalq (Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz), em Piracicaba. Dependente
dos remédios, ela pagava o dobro
para que as farmácias de manipulação
lhe vendessem anfetamínicos. “Se
custava 50, pagava 100. Eles se viravam
para procurar receita.” A primeira dosagem
foi receitada porque ela queria perder
cinco quilos. Hoje, depois de dois filhos,
Valéria pesa 56 quilos ao longo
dos seus 1,53 metros. A assistente acadêmica
reconhece que tem um índice de massa
corporal adequado, mas não se considera
magra. “Toda mulher acha que tem cinco
quilos a mais. É como ver no espelho
uma imagem que não é dela”,
justifica.
No mais famoso site de relacionamentos,
o Orkut, milhares de internautas compartilham
experiências semelhantes à de
Valéria em comunidades virtuais
que geralmente têm o mesmo nome do
medicamento – Clube do Frontal, Eu
Tomo Alpraz ou ainda Adoro Meus
Calmantes. A maioria dos membros aparenta
sofrer de ansiedade, indisposição
física e distúrbios do sono. “Quando
eu paro de tomar meu calmante predileto,
dá até tremedeira.” Esta é uma
das mensagens que circulam entre alertas
sobre o uso indevido de remédios,
receitas próprias e muita informação
equivocada.
Questões sociais
Fala-se muito no modelo de beleza magra
imposto à mulher. Mas, imposto por
quem? Segundo explica a psicanalista Sílvia
Brasiliano, coordenadora do Promud (Programa
de Atenção à Mulher
Dependente Química), do Instituto
de Psiquiatria (IPq) da USP, “o culto à magreza é algo
narcísico, pois procura satisfazer
um desejo da própria mulher. Não
se trata de buscar ser aceita pelo namorado
ou marido. O que se vê na nossa cultura é o
homem valorizando corpos mais cheios, não
das modelos de moda. Quem gosta de corpo
magro é a mulher”.
Outra especulação aponta
para a entrada feminina no mercado de trabalho
como o grande responsável pelo estresse
nas ex-donas de casa. “Muito pelo contrário”,
garante o professor Elisaldo Carlini, diretor
do Cebrid na Unifesp. “A mulher que só fica
em casa dá mais sinais de ser infeliz
e tem mais queixas de solidão.” O
pesquisador cita estudos norte-americanos
que revelam o aumento no consumo de psicotrópicos
em função da jornada de trabalho
dentro do lar. Quanto maior a jornada de
trabalho doméstico, maior o uso
de medicamentos.
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