Meu calmante predileto


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“Quando eu paro de tomar meu calmante predileto, dá até tremedeira.” Usuária do Orkut

 

 

c. Francisco Emolo
"Quem toma calmante e anfetamina pode achar que é algo fraquinho ou natural, porque foi feito em farmácia de manipulação. Muitos médicos não avisam que é um psicotrópico e o que isso significa.” Sílvia Brasiliano



“As farmácias e médicos deveriam ficar alertas, porque quem tem o vício pode levar à corrupção”, diz Valéria Perencin, funcionária da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba. Dependente dos remédios, ela pagava o dobro para que as farmácias de manipulação lhe vendessem anfetamínicos. “Se custava 50, pagava 100. Eles se viravam para procurar receita.” A primeira dosagem foi receitada porque ela queria perder cinco quilos. Hoje, depois de dois filhos, Valéria pesa 56 quilos ao longo dos seus 1,53 metros. A assistente acadêmica reconhece que tem um índice de massa corporal adequado, mas não se considera magra. “Toda mulher acha que tem cinco quilos a mais. É como ver no espelho uma imagem que não é dela”, justifica.

No mais famoso site de relacionamentos, o Orkut, milhares de internautas compartilham experiências semelhantes à de Valéria em comunidades virtuais que geralmente têm o mesmo nome do medicamento – Clube do Frontal, Eu Tomo Alpraz ou ainda Adoro Meus Calmantes. A maioria dos membros aparenta sofrer de ansiedade, indisposição física e distúrbios do sono. “Quando eu paro de tomar meu calmante predileto, dá até tremedeira.” Esta é uma das mensagens que circulam entre alertas sobre o uso indevido de remédios, receitas próprias e muita informação equivocada.

Questões sociais

Fala-se muito no modelo de beleza magra imposto à mulher. Mas, imposto por quem? Segundo explica a psicanalista Sílvia Brasiliano, coordenadora do Promud (Programa de Atenção à Mulher Dependente Química), do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, “o culto à magreza é algo narcísico, pois procura satisfazer um desejo da própria mulher. Não se trata de buscar ser aceita pelo namorado ou marido. O que se vê na nossa cultura é o homem valorizando corpos mais cheios, não das modelos de moda. Quem gosta de corpo magro é a mulher”.

Outra especulação aponta para a entrada feminina no mercado de trabalho como o grande responsável pelo estresse nas ex-donas de casa. “Muito pelo contrário”, garante o professor Elisaldo Carlini, diretor do Cebrid na Unifesp. “A mulher que só fica em casa dá mais sinais de ser infeliz e tem mais queixas de solidão.” O pesquisador cita estudos norte-americanos que revelam o aumento no consumo de psicotrópicos em função da jornada de trabalho dentro do lar. Quanto maior a jornada de trabalho doméstico, maior o uso de medicamentos.

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