O prof. Carlini é diretor do Cebrid, na Unifesp, maior centro
de pesquisa sobre o consumo de psicotrópicos no Brasil.
Em dezembro, ele participou de uma jornada de estudos no Instituto
de Psiquiatria da USP.
“O aumento do consumo acontece pela procura do corpo ideal e pela leviandade
com que os médicos fazem prescrições.” Patrícia Hochgraf
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A
funcionária Maria Helena Braga,
do Instituto de Física de São
Carlos, chegou a usar calmantes depois
de passar por uma gestação
difícil aos 40 anos: “Não
sabia se [ a gravidez ] ia pra
frente, eu estava muito tensa e a primeira
coisa que o médico sugeriu foram
os medicamentos. Durante uma semana eu
fiquei abatida e sonolenta. No trabalho,
a cobrança existia mesmo assim,
ninguém queria saber se eu estava
voltando de uma gravidez. Por isso parei
de tomar o calmante”, conta. Para mudar
a situação, a saída
encontrada por Maria Helena foi aliviar
a tensão através de exercícios:
ginástica, caminhada e acupuntura. “Aos
pouquinhos fui melhorando. Hoje, eu e minha
filha de seis anos estamos bem.”
O exemplo de Maria Helena é incomum. “As
pessoas querem respostas rápidas,
querem alívio para ontem. É a
cultura do imediatismo”, fala Patrícia
Hochgraf, psiquiatra e coordenadora do
Promud, do IPq. “Para resolver um mal-estar,
tem-se usado calmantes no lugar de terapias
ou exercícios, porque apresentam
efeitos mais rápidos. Está errado,
a pessoa fica sujeita aos efeitos colaterais,
inclusive risco de dependência. Quem
quer emagrecer quatro ou cinco quilos também
não pode tomar anfetaminas. Remédio
só no caso de obesidade mórbida,
não importa se você tem um
cruzeiro de férias no mês
que vem”, afirma Patrícia.
A pesquisadora vê apenas uma forma
dos médicos lidarem com a cobrança
dos pacientes no consultório: “Se
não tem indicação,
não dê a receita. Se o paciente
te achar chato e não voltar mais,
não dá para fazer nada”.
A professora Sílvia Brasiliano,
também do IPq, completa: “O modelo
de pouco esforço não ajuda
a refletir e organizar, nem trata das causas.
Remédio para emagrecer dá o
chamado efeito rebote: a mulher engorda
tudo de novo”.
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