Meu calmante predileto


c. Francisco Emolo
O prof. Carlini é diretor do Cebrid, na Unifesp, maior centro de pesquisa sobre o consumo de psicotrópicos no Brasil. Em dezembro, ele participou de uma jornada de estudos no Instituto de Psiquiatria da USP.

 

c. Francisco Emolo
“O aumento do consumo acontece pela procura do corpo ideal e pela leviandade com que os médicos fazem prescrições.” Patrícia Hochgraf


A funcionária Maria Helena Braga, do Instituto de Física de São Carlos, chegou a usar calmantes depois de passar por uma gestação difícil aos 40 anos: “Não sabia se [ a gravidez ] ia pra frente, eu estava muito tensa e a primeira coisa que o médico sugeriu foram os medicamentos. Durante uma semana eu fiquei abatida e sonolenta. No trabalho, a cobrança existia mesmo assim, ninguém queria saber se eu estava voltando de uma gravidez. Por isso parei de tomar o calmante”, conta. Para mudar a situação, a saída encontrada por Maria Helena foi aliviar a tensão através de exercícios: ginástica, caminhada e acupuntura. “Aos pouquinhos fui melhorando. Hoje, eu e minha filha de seis anos estamos bem.”

O exemplo de Maria Helena é incomum. “As pessoas querem respostas rápidas, querem alívio para ontem. É a cultura do imediatismo”, fala Patrícia Hochgraf, psiquiatra e coordenadora do Promud, do IPq. “Para resolver um mal-estar, tem-se usado calmantes no lugar de terapias ou exercícios, porque apresentam efeitos mais rápidos. Está errado, a pessoa fica sujeita aos efeitos colaterais, inclusive risco de dependência. Quem quer emagrecer quatro ou cinco quilos também não pode tomar anfetaminas. Remédio só no caso de obesidade mórbida, não importa se você tem um cruzeiro de férias no mês que vem”, afirma Patrícia.

A pesquisadora vê apenas uma forma dos médicos lidarem com a cobrança dos pacientes no consultório: “Se não tem indicação, não dê a receita. Se o paciente te achar chato e não voltar mais, não dá para fazer nada”. A professora Sílvia Brasiliano, também do IPq, completa: “O modelo de pouco esforço não ajuda a refletir e organizar, nem trata das causas. Remédio para emagrecer dá o chamado efeito rebote: a mulher engorda tudo de novo”.

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