“Os inventários, separações e divórcios consensuais
que estão sendo feitos no Fórum podem ser transferidos para os
cartórios. Se o processo era litigioso e agora se chegou a um acordo,
ele também pode ser transferido”. Paulo Vampré. |
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Segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística),
somente em 2005, foram realizados 100.448
separações judiciais e 150.714
divórcios. O instituto não
disponibiliza informações
a respeito do número de inventários
realizados, mas registra cerca de 1 milhão
de óbitos em 2005. Para Villaça,
a absorção de parte de todos
esses processos pelos cartórios
brasileiros deve contribuir muito para
que o sistema judiciário fique menos
sobrecarregado: “Dessa forma, a justiça
fica só para resolver problemas,
quando eles existirem, e não para
fazer uma simples homologação”.
A nova lei deve dar mais agilidade à realização
dos processos, que poderão ser lavrados
sem a necessidade de expedição
de mandado para averbação
no registro civil. O presidente da sessão
de São Paulo do Colégio Notarial
do Brasil, Paulo Vampré, explica
que, nos processos judiciais, são
realizadas muitas petições
e os prazos de manifestação
da justiça são mais amplos,
o que torna os processos mais demorados.
Segundo ele, a informatização
permite que os cartórios sejam menos
burocráticos, diferentemente do
Judiciário, que “ainda não
está ajustado para o mundo digital”.
Dessa forma, um processo de separação
consensual que costumava levar uma semana
para ser realizado no Fórum, agora
poderá ser efetivado em algumas
horas. No caso dos inventários,
a diferença de tempo é ainda
maior, já que, mesmo nos processos
consensuais, a espera pela separação
dos bens costumava passar de um ano. Agora,
desde que toda a documentação
esteja regularizada, o inventário
pode ser feito, no máximo, de um
dia para o outro.
Lenilde Maria da Silva é recepcionista
da Faculdade de Direito e diz que nunca
passou por processos de divórcio
ou inventário. Mas ela vê com
bons olhos a agilização proporcionada
pela nova lei: “As pessoas costumavam perder
muito tempo com isso, acho que facilita
bastante”.
Quanto aos custos, para o cidadão
pobre, nada mudará. Ele não
pagará pelo processo, desde que
comprove sua necessidade através
de uma Declaração de Pobreza.
Averiguada a veracidade da declaração,
o cartório realiza o processo sem
cobrar nada. Para conseguir um advogado,
o cidadão deve ir até a Defensoria
Pública, que, em parceria
com a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB),
disponibilizará um profissional
gratuitamente.
Já para aqueles que podem pagar,
haverá uma variação
substancial nos preços. Enquanto
no Fórum o processo custa R$ 80,00,
nos cartórios o preço é de
R$ 218,49. Segundo Vampré, isso
ocorre porque as tabelas de custas dos
fóruns e dos cartórios são
diferentes, determinadas por normas distintas.
Entretanto, ele pondera que, embora os
cartórios cobrem mais caro para
a realização dos processos,
pode-se economizar com o advogado: “Nos
cartórios, em função
da diminuição do tempo de
tramitação, o advogado pode
cobrar menos”. A OAB está elaborando
uma nova tabela de preços.
Tabelião do 14º Cartório
de Notas da Capital, Vampré acredita
que os cartórios brasileiros estão
preparados para receber toda a demanda
de processos que está por vir, mas
faz uma ressalva: “Estamos em fase de adaptação
e, por isso, pode haver algum gargalo no
começo. Todos os tabeliães
terão que saber as novas normas
e direito da sucessão na ponta da
língua”. Para isso, simpósios
têm sido realizados em São
Paulo com o objetivo de proporcionar uma
orientação aos tabeliães
do Estado. |
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Casamento
A promulgação da Lei 11.441
suscita polêmica a respeito do status
do casamento na atualidade, visto que reflete,
pelo menos em parte, o número elevado
de separações e divórcios
registrados. Paulo César Bontempi,
funcionário do Departamento de Jornalismo
da ECA/USP, acha que “o casamento é um
contrato falido, uma instituição
que não significa mais nada”. Para
ele, a união contratual entre duas
pessoas não atende mais à cultura
atual, na qual as mulheres se emanciparam
e há uma maior liberdade de relacionamento,
sem a necessidade de compromissos.
Por outro lado, Maísa Splendore
Della Casa, pesquisadora do Instituto Butantã,
acredita que o elevado número de
separações deve-se a um período
de transição cultural que,
no entanto, tende a uma estabilização. “Penso
que após esse caos comportamental,
a tendência é um amadurecimento
de idéias e valores, resultando
na implantação de relacionamentos
mais consistentes, de respeito mútuo
e de valores de vida mais ordenados. Afinal,
no fundo, todo mundo quer uma sociedade
saudável e de qualidade.” |