O presidente matemático

 

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arquivo pessoal
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No Ministério das Relações Exteriores, em 1988, ao receber o título de Comendador da Ordem do Rio Branco


Ao contar a própria história, Raupp demonstra um orgulho especial pelos anos no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Mandaram um matemático dirigir um centro espacial. E eu consegui. Fiz uma administração com novos projetos que estão no âmago da atividade do Inpe até hoje”, recorda.

Entre 1985 e 1989 no Inpe, uma de suas contribuições foi o CPTEC, Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. “Toda vez que ligo a televisão e vejo a moça do tempo, me lembro disso. Mas eu não fiz nada sozinho. Para isso é preciso uma equipe. Eu fui convencido pelos meteorologistas de lá sobre a necessidade de um centro assim e, como diretor, conduzi a proposta”, explica.

Outra realização do matemático no centro espacial foi o acordo de cooperação entre Brasil e China, em 1988, visando ao desenvolvimento dos satélites CBERS-1 e CBERS-2. O pacto foi pioneiro das parcerias espaciais exclusivas entre países do Sul. Até então, sempre havia uma nação do Hemisfério Norte nos encontros. Hoje, são esses satélites que produzem imagens do globo, especialmente da Amazônia.

Tal iniciativa foi homenageada com o título Comendador da Ordem de Rio Branco, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores naquele mesmo ano. “ Para mim, esse título é motivo de orgulho, porque não sou um diplomata de carreira, eu sou um cientista. Receber medalha como cientista tudo bem, mas receber por diplomacia!”

Para o cientista, as atividades de pesquisa estão suspensas por tempo indeterminado. “Na minha vida toda, me dediquei mais tempo à carreira acadêmico-científica. Mas, nos últimos anos, eu só tenho cuidado de funções administrativas, nem estou vinculado mais a nenhuma instituição acadêmica. Com esse furor da SBPC, não dá tempo.”

Ao longo da carreira, porém, teve uma coisa que o professor não abriu mão, já que veio de uma família muito ligada à zona rural. “Não sosseguei enquanto não comprei um pedaço de terra lá nas Minas Gerais. É uma fazenda pequena, que tem gado e milho”, conta, com um ar bonachão e sorriso no canto da boca.

O forte do pesquisador Raupp é a matemática aplicada a problemas físicos e de engenharia, tema de seu doutorado na Universidade de Chicago, Estados Unidos. O assunto é bem diferente da almejada graduação em Direito, que cogitou seguir quando tinha apenas 17 anos.

Na Universidade de São Paulo, passou quatro anos tocando pesquisas e lecionando no IME. “Eu gosto de dar aula. Acho muito bom, porque isso obriga a sistematizar o conhecimento e articular as idéias.”

Para seguir o próprio caminho, Raupp teve que aprender desde cedo a se articular. “Quando disse para o meu pai que eu queria ser cientista, ele respondeu ‘tá doido, você precisa ser advogado ou médico'. Fui enquadrado por uns bons tempos. Mas quando ele viu meus argumentos, quando viu minha certeza, não fez mais pressão.”

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