Presença de mais negros nas redações evitaria cobertura distorcida, afirma líder do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Flávio Carrança, que participou da criação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, vai apresentar sua experiência no Encontro Internacional África-Brasil Igualdade racial: um desafio para a mídia, evento conjunto da Universidade de São Paulo, por meio de seu Núcleo de Comunicação e Educação (NCE-USP), Instituto Internacional de Jornalismo e Comunicação (IIJC) de Genebra e SESC-SP, que começa no próximo dia 1º de outubro.

Dados do Ministério do Trabalho mostram que, em 2001, dos 20.952 jornalistas que preencheram o questionário Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), apenas 253, pouco mais de um por cento, declararam-se negros; outros 2.606 (12%) disseram ser pardos e quase 70% afirmaram ser brancos.

“Fazendo um paralelo, penso que o aumento do número de mulheres nas redações deve ter melhorado a cobertura de temas de interesse e ligados às próprias mulheres. Da mesma forma, imagino que veículos de comunicação com mais negros seriam menos propensos a fazer coberturas distorcidas em temas ligados a esse segmento. Daí a importância das reflexões que o Encontro Internacional África Brasil vai ensejar e que devem estar refletidas no documento final do evento, que se tornará uma referência para todos aqueles que desejam ver o jornalismo e a comunicação em geral como instrumentos para a construção de um mundo mais democrático, com menos miséria e menos opressão”, comenta Flávio Carrança, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e um dos expositores do Painel Comunicação Impressa e Questões Raciais, previsto para o próximo dia 13/10.

O Encontro Internacional África-Brasil Igualdade racial: um desafio para a mídia será realizado entre os dias 10 e 14 de outubro próximo. O evento é uma iniciativa conjunta da Universidade de São Paulo, por meio de seu Núcleo de Comunicação e Educação (NCE-USP), Instituto Internacional de Jornalismo e Comunicação (IIJC) de Genebra e SESC-SP, dividindo-se em duas partes. A primeira será restrita a 27 jornalistas africanos e convidados especiais, sendo prevista para os dias 10 e 11 de outubro, com atividades na USP e no Museu Afro-Brasil. Já a segunda parte, aberta a inscrições, será realizada entre os dias 12 a 14/10 no auditório do SESC Vila Mariana (rua Pelotas, no. 141). As inscrições podem ser feitas pelo site www.sescsp.org.br/africabrasil

Muito por fazer - Carrança ajudou a dotar seu sindicato de uma política de combate ao racismo. “No Encontro Internacional África Brasil vou relatar a experiência da Cojira, Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que mesmo lutando contra grandes dificuldades conseguiu reunir profissionais para refletir sobre as relações entre racismo e imprensa e tentar trabalhar para melhorar a situação desses comunicadores. O racismo não vai morrer de velho, é preciso colocar o combate aos seus efeitos entre nossas prioridades”, destaca o ativista.

Segundo Carrança, na mídia impressa ainda prevalece uma cobertura tímida das questões éticas e embora venha melhorando, ainda reproduz estereótipos racistas. “O fato é que no jornalismo, assim como na sociedade brasileira como um todo, ainda há muito por fazer para superar os efeitos do racismo. Daí a importância desse encontro internacional, pois vai reunir jornalistas, comunicadores, pesquisadores, educadores, lideranças políticas e agentes culturais do Brasil e da África para discutir os desafios que as questões de raça e etnia apresentam para a mídia e a comunicação como um todo, permitindo uma rica troca de experiências que em circunstâncias normais dificilmente aconteceria”, conclui.

Cobertura jornalística por grupo de adolescentes – Um dos destaques da programação do Encontro Internacional África Brasil será a cobertura do evento a ser realizada por um grupo de “jovens educomunicadores”. Uma equipe de 60 adolescentes de escolas públicas do município de São Paulo, bem como do Colégio São Luis, todos integrantes do Projeto Educom.rádio do NCE/USP, está sendo preparada para realizar uma cobertura completa do evento através da linguagem radiofônica e da produção de notas e comentários a serem distribuídos via Internet. Segundo o Prof. Ismar de Oliveira Soares, coordenador geral do NCE/USP e sistematizador do conceito da educomunicação, esta será primeira vez em que os profissionais da mídia serão convidados a discutir e a refletir sobre sua profissão, entregando a cobertura jornalística a jovens e adolescentes, em sua maioria afro-descendentes. Flávio Carranca será um dos entrevistados pelos repórteres-mirins do Educom.

Saiba mais:
Informações sobre o evento www.usp.br/nce ou www.sescsp.com.br
Para falar com a Comissão Organizadora envie mensagem para o e-mail: africabrasil@usp.br