SEMELHANTE A NOITE

Por Felipe Chibás Ortiz.

Não me olhe
com aqueles olhos que não existem.
Essas alucinações arrancadas a noite
me machucam,
muito mais do que as reais,
se eles se incrustam nos meus.
Não. Não me olhe
como se quisesse quebrar o pescoço da Lua.
Faz dez gatos
que estou esperando pelos seus olhos
mas agora a certeza jaze massacrada
por essas janelas que se abrem ao impossível.
Meu doble
saiu no dia ontem para te procurar
através das estrelas
e não voltou
ou voltou louco, enlouquecido,
irreconhecível ante o espelho.
Não olhes,
que é difícil descravar
o prenúncio do desastre
escondido em tanto sorriso,
em tanta mulher erigida
por milênios sob a pele.
O vazio ou um osso azul
alheio à esperança
esperam do outro lado do túnel,
que leva a lugar nenhum
se você olha.
Gaivotas tornam-se prostitutas
desaparecendo na escuridão,
surgindo repentinamente
da parte inferior de suas pupilas;
Aqueles anjos negros
que cometem suicídio diariamente,
para ver se transcendem
a si mesmos.
Contra eles ninguém pode.
Por isso, não me olhe.

Escrito originalmente em: 11/08/1990 às 10h45

Poema do livro ENQUANTO A ARANHA TECE SUA TEIA DE CRISTAL , Ed: abril, Havana, 1994. Autor: Felipe Chibás Ortiz.