Discutimos o conceito deleuziano de máquina de guerra como elemento constitutivo do fazer literário. Entendendo que a literatura tem potência de revolução, apresentamos o livro, máquina de guerra, contra o livro, aparelho de Estado. À luz dos escritos de João Guimarães Rosa, mais especificamente da novela “Campo Geral”, analisa-se a guerra entre personagens, o segredo como mobilizador e estruturador da revolução interna de Miguilim, e ainda uma aposta de que, dentro do projeto maior do autor, Corpo de Baile se configura como uma máquina de guerra contra uma possível obra mais estruturada.
Discute-se o funcionamento do conceito deleuzeano de ritornelo em "Campo geral", de João Guimarães Rosa, para analisar, em uma abordagem comparatista, como isto acontece em 'Mutum' (2007), filme de Sandra Kogut, inspirado na novela rosiana. Reafirma-se, assim, a potência arte de rosa, à luz de uma perspectiva contemporânea, ampliada, de sua produção.
FFLCH / Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a literatura e o cinema a partir da filosofia contemporânea. Foram objetos deste estudo a literatura, aqui representada por João Guimarães Rosa, e o cinema inspirado por uma de suas obras. Analisou-se Campo Geral, novela publicada pela primeira vez em Corpo de Baile (1956) em relação a Mutum (2007), de Sandra Kogut, o filme mais recente de inspiração rosiana até a organização do projeto de pesquisa que deu origem a esta tese. Para a análise do corpus da pesquisa, emprestamos alguns conceitos da filosofia, especialmente de Gilles Deleuze, um autor que se dedicou ao cinema e à literatura em seus escritos individuais e na parceria com Félix Guattari. Fazendo um recorte da literatura e do cinema à luz dos conceitos filosóficos selecionados, reafirmamos as potências contemporâneas da arte rosiana. Ao trabalharmos conceitos em um plano transversal coerente com o pensamento deleuziano, também estabelecemos critérios para uma análise comparatista entre literatura e cinema, explorando principalmente o conceito de fabulação.
A partir do conceito de devir na obra de Gilles Deleuze e Felix Guattari, principalmente quando relacionado à obra de Franz Kafka, estabelecer pontes com o conto de João Guimarães Rosa, “Meu tio o Iauaretê”. Perceber na literatura o lado do inacabamento, sempre em via de se fazer, os atravessamentos, o entre-meio, o delírio do devir-animal. Observar na escrita a decomposição da língua materna e a recuperação da voz e da força de uma língua menor. Enfrentar o desafio de unir duas altas potências (a filosofia e a literatura) em um outro plano de composição: a imagem.