Foi realizado um mapeamento das traduções/transcriações realizadas a partir da obra de Guimarães Rosa para outros sistemas semióticos, principalmente para cinema, televisão e vídeo. Analisou-se também, comparativamente, a narrativa “Cara-de-Bronze”, presente no livro No Urubuquaquá, no Pinhém, ex-Corpo-de-Baile, enquanto roteiro cinematográfico, classificando-o como texto transemiótico e transgenérico. Por abranger vários gêneros textuais, pertencentes a diferentes sistemas de signos – literatura, roteiro, teatro, cantigas – o conto rosiano deve ser considerado como texto transtextual. Para este estudo, foram utilizadas as teorias de transtextualidade, desenvolvida por Gérard Genette; de tradução intersemiótica, elaborada pelo teórico russo Roman Jackobson; e de transcriação, criada pelo poeta e crítico Haroldo de Campos. Para estudo comparativo entre a narrativa literária “Cara-de-Bronze” e roteiros foram utilizados, como referência, os seguintes livros: Roteiro – arte e técnica de escrever para cinema e televisão e Da criação ao roteiro, ambos de Doc Comparato, além de textos sobre edição de vídeos e filmes, técnicas de filmagem e história do cinema, como Introdução ao cinema, de José Eustáquio Romão, e A linguagem cinematográfica, de Marcel Martin.
O PRESENTE ESTUDO SE UTILIZA DA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA FEITA POR ROBERTO SANTOS DO CONTO “A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA”, DE GUIMARÃES ROSA, PARA REFLETIR SOBRE QUESTÕES LIGADAS NÃO SOMENTE ÀS RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS QUE DECORREM DE TAL EMPREITADA, MAS TAMBÉM PARA SUSCITAR QUESTÕES PRÓPRIAS À CONDIÇÃO DAS ARTES CINEMATOGRÁFICA E LITERÁRIA, REFLETINDO SOBRE A FORMA COMO ESSAS ARTES SE PRESENTIFICAM NO MUNDO E SOBRE A CONDIÇÃO DE SEUS RESPECTIVOS RECEPTORES, O ESPECTADOR E O LEITOR.
A partir de uma discussão sobre a morte, o artigo analisa algumas imagens inspiradas na literatura de Guimarães Rosa que estão presentes em outras linguagens artísticas. São apresentadas as leituras dos textos rosianos realizadas pela fotógrafa Maureen Bisilliat e pelos cineastas Marcello Tassara, Roberto Santos e Glauber Rocha.
Este trabalho pretende analisar duas adaptações cinematográficas do romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa: o longa-metragem Grande sertão, dirigido, em 1965, por Geraldo e Renato dos Santos Pereira (p&b, 92 min) e o curta-metragem rio de-janeiro, minas (1993, cor, 9 min, dir. Marily da Cunha Bezerra), almejando, por um lado, esclarecer certas questões sobre a adaptação do romance para a tela e, por outro, à luz do conceito de Lukács segundo o qual “as obras de arte são revitalizadas quando correspondem a ansiedades similares àquelas do período em que foram originalmente produzidas”, buscando avaliar a relação de cada filme com os contextos nos quais foram produzidos e a possibilidade de considerar essas obras, tanto quanto o Grande sertão de Rosa, como "retratos (moventes) do Brasil".
Este ensaio pretende analisar o livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa, e sua transposição para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com adaptação de Alcione Araújo. Tomaremos como foco central do trabalho a noção de comum. Buscaremos verificar como este conceito, tratado por pensadores contemporâneos, aparece nas obras analisadas. O ensaio almeja investigar aspectos da linguagem literária e fílmica e avaliar a relação das personagens com a vida comunitária. Podemos perceber, no livro e no filme, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos modelos predominantes na modernidade ocidental. Ideias sobre compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem da análise dos textos. Mas o trabalho também mostrará o conceito de comum como a dificuldade de se empreender experiências comunitárias, tentando abrir o leque de interpretações sobre a questão. O livro e o filme trazem as ideias do diálogo e do perdão como pontos importantes, sugerindo novas formas de vida social.
FFLCH / Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a literatura e o cinema a partir da filosofia contemporânea. Foram objetos deste estudo a literatura, aqui representada por João Guimarães Rosa, e o cinema inspirado por uma de suas obras. Analisou-se Campo Geral, novela publicada pela primeira vez em Corpo de Baile (1956) em relação a Mutum (2007), de Sandra Kogut, o filme mais recente de inspiração rosiana até a organização do projeto de pesquisa que deu origem a esta tese. Para a análise do corpus da pesquisa, emprestamos alguns conceitos da filosofia, especialmente de Gilles Deleuze, um autor que se dedicou ao cinema e à literatura em seus escritos individuais e na parceria com Félix Guattari. Fazendo um recorte da literatura e do cinema à luz dos conceitos filosóficos selecionados, reafirmamos as potências contemporâneas da arte rosiana. Ao trabalharmos conceitos em um plano transversal coerente com o pensamento deleuziano, também estabelecemos critérios para uma análise comparatista entre literatura e cinema, explorando principalmente o conceito de fabulação.
A presente dissertação empreende uma leitura poética da novela Campo Geral, de Guimarães Rosa, do filme Mutum, baseado na novela citada e dirigido por Sandra Kogut e da investigação em campo realizada em cidades de Minas Gerais-MG envolvidas na realização desse filme. O propósito dessa leitura é comunicar a experiênica devaneadora realizada a partir de uma obra fílmica, de uma narrativa literária e do encontro com cinco atores não-profissionais e três pessoas da equipe técnica de Mutum. Para isso, o devaneio poético, proposto por Gaston Bachelard, é usado como recurso cognitivo para experienciar a realidade semi-imaginária do homem, a partir do acionamento do duplo no processo de participação afetiva (MORIN,1997). O filme escolhido trata das impressões de uma criança, que vive com seus pais, seus irmãos, sua avó e sua cachorra Rebeca num lugar chamado Mutum. Sob a perspectiva do ser devaneador, que medita sobre as imagens da infância onírica dentro do contexto do sertão, de um sertão que é transformado e alargado por meio do sonho poético, alcançamos a infância meditada (BACHELARD, 2006). Ao longo da narrativa desta pesquisa, Guimarães Rosa, a diretora Sandra Kogut, eu mesma enquanto indivíduo/pesquisadora e os interlocutores da Família Mutum que encontrei em Minas Gerais, todos nós somos tomados enquanto Miguilins que sonham o sertão da cabaça azul. Incandescentes, múltiplos, palimpsestos, esses Miguilins são portadores da carteira de identidade multicolorida e com ela compreendem a participação humana na Grande Narrativa (SERRES, 2005).
Este ensaio visa empreender uma análise do livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa e de sua adaptação para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com roteiro de Pedro Bial e adaptação de Alcione Araújo, tomando como foco central a ideia do comum. Buscaremos verificar como esse conceito, tratado por pensadores contemporâneos, apresenta-se nos textos do corpus. Além de investigar características da própria linguagem literária e fílmica, o ensaio pretende avaliar o modo como, nos contos e em sua adaptação para o longa-metragem, ocorre a relação do homem com a vida comunitária, cotidiana. Podemos perceber, no trabalho de Rosa, retomado por Bial, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos imperativos da modernidade. Ideias de compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem na análise dos textos. Mas o trabalho tratará a noção do comum também como dificuldade de se empreender o viver junto, abrindo assim o lequ
O sucesso na transposição de narrativas literárias para o cinema depende da resolução adequada
de uma série de questões, em especial a do narrador, conforme apontaram Xavier (1998) Johnson
(1995) e outros. Os desafios para a transposição ampliam-se consideravelmente quando se trata de
narrativas com intensa elaboração textual, como é o caso de Primeiras estórias, de Guimarães
Rosa, que foram alvo de duas versões cinematográficas nos anos 90: A terceira margem do rio,
(Nelson Pereira dos Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999). Em ambos os casos, a
roteirização privilegiou a unificação das narrativas curtas, compondo um grande quadro de
personagens com relações de parentesco ou de envolvimento em situações que extrapolam o
conteúdo diegético dos contos. As peculiaridades da escrita de Rosa, todavia, interferem
substancialmente no processo e no resultado. O presente trabalho confronta determinadas
personagens nas versões literária e cinematográfica, ressaltando difer