O espaço do sertão Rosiano somente pode ser entendido pelo leitor por meio da linguagem criada pelo autor e perpetrada pela fala de Riobaldo. A espacialidade internalizada pela experiência é re-significada pela memória e expressa por meio de inúmeras relações entre o espaço físico, o espaço vivido e o espaço recordado. A vivência do espaço-sertão, o seu rememorar e o buscar do profundo nos acontecimentos são mediados por considerações físicas a respeito do espaço por meio da memória e dos sentimentos. As sobreposições de perspectivas e de categorias sobre os modos de apresentar e estudar as ideias de espaço permitem a construção mitopoética rosiana em que a linguagem transforma o mundo por se interessar pelas experiências genuínas em que o maravilhamento se apresenta ao ser humano em seu mundo da vida; neste caso, o sertão inventado por Guimarães e contado por Riobaldo. O espaço no sertão e o espaço do sertão são entrecortados por elementos reais, mágicos, políticos, lúdicos, lógicos, lendários, mnemônicos, místicos e míticos. Resta ao leitor viver perigosamente nos entrecortes dos inúmeros horizontes propostos no contar de Riobaldo; entre-cortes são apresentados o espaço e o sertão na verossimilhança do narrar e no ato da leitura.
Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia
Ao investigar a necessidade do maravilhamento para todo e qualquer pensamento humano, constatam-se, nas multiformes características da intelectualidade, os diferentes modos nos quais a racionalidade humana se sustenta e se expressa. Se o desejo em conhecer é imprescindível, as perplexidades e os descaminhos da razão são inevitáveis. Deste modo, diante da inexpressabilidade da substância e dos limites da causalidade, estudam-se as maneiras pelas quais a contemplação no mundo antigo e as considerações a respeito da noção de mundo no pensamento pós-kantiano podem ser entrelaçadas para uma abordagem fenomenológica do espaço. Mostra-se imperativo um estudo a respeito do mundo da vida contemporâneo para uma melhor compreensão do objeto material escolhido: as ideias de espaço; tal resultado decorre da escolha de uma abordagem fenomenológica como um objeto formal de estudo. Ao estudar os modos pelos quais as noções de espaço se interrelacionam na contemporaneidade, infere-se que estas interagem em contextos específicos com o Vero, o Belo e o Bom. Fundamenta-se tal dedução em um estudo histórico de algumas considerações sobre o espaço, inicialmente em uma pesquisa sobre a recepção e a crítica do postulado das paralelas, e posteriormente por uma recapitulação de algumas importantes considerações intelectuais sobre o espaço ao longo do tempo. Mostra-se, portanto, que para se compreender o espaço e a espacialidade, uma avaliação sobre o mundo da vida é imprescindível. Opta-se por um estudo da contemporaneidade, sobretudo ao selecionar algumas telas cubistas, algumas obras de M.C. Escher, alguns contos de Jorge Luis Borges e o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa como exemplos paradigmáticos nos quais distintas considerações sobre o espaço são combinadas no cenário hodierno. Diante das inúmeras formas de compreensão do espaço, desvela-se a perplexidade da racionalidade humana; perante o inexorável desejo em apreender, conceber e expressar a realidade, evidencia-se o maravilhamento. Entre metáforas e metonímias, maravilhamento e perplexidades, inventa-se o espaço nos contextos particulares de expressão da intelectualidade humana.