Este artigo tem como objetivo mostrar as relações que João Guimarães Rosa
travou com a família judaica de Israel Klabin. A partir das correspondências entre Rosa
e Klabin e de uma entrevista realizada por mim, intento demonstrar o filossemitismo
de Rosa. Além disso, com base em documentos, livros e pesquisas, discuto o
conhecimento e a atuação de Rosa na emissão de vistos para judeus durante seu
período na Embaixada Brasileira em Hamburgo.
O espaço do sertão Rosiano somente pode ser entendido pelo leitor por meio da linguagem criada pelo autor e perpetrada pela fala de Riobaldo. A espacialidade internalizada pela experiência é re-significada pela memória e expressa por meio de inúmeras relações entre o espaço físico, o espaço vivido e o espaço recordado. A vivência do espaço-sertão, o seu rememorar e o buscar do profundo nos acontecimentos são mediados por considerações físicas a respeito do espaço por meio da memória e dos sentimentos. As sobreposições de perspectivas e de categorias sobre os modos de apresentar e estudar as ideias de espaço permitem a construção mitopoética rosiana em que a linguagem transforma o mundo por se interessar pelas experiências genuínas em que o maravilhamento se apresenta ao ser humano em seu mundo da vida; neste caso, o sertão inventado por Guimarães e contado por Riobaldo. O espaço no sertão e o espaço do sertão são entrecortados por elementos reais, mágicos, políticos, lúdicos, lógicos, lendários, mnemônicos, místicos e míticos. Resta ao leitor viver perigosamente nos entrecortes dos inúmeros horizontes propostos no contar de Riobaldo; entre-cortes são apresentados o espaço e o sertão na verossimilhança do narrar e no ato da leitura.
O artigo resulta de pesquisa realizada entre os meses de abril e junho de 2010 no Instituto de Estudos Brasileiros (USP) e apresenta a listagem completa dos títulos pertencentes à biblioteca de João Guimarães Rosa que de algum modo se relacionam à língua e cultura alemãs. Descrevemos nosso procedimento e procuramos privilegiar alguns aspectos do material estudado, elaborando uma introdução ao levantamento, comentando as presenças mais significativas, os temas recorrentes e a marginália encontrada em volumes de autores como Nietzsche, Kafka e Erich Auerbach, bem como o contexto da relação de Guimarães Rosa com as leituras alemãs. Intentamos contribuir no estudo de fontes da obra do autor de Grande sertão: veredas e desejamos por fim divulgar um objeto de provável interesse no âmbito dos estudos germanísticos brasileiros.
O artigo analisa a adaptação para o cinema do conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", de João Guimarães Rosa (1962). São objeto do trabalho os filmes Cabaret Mineiro, de Carlos Alberto Prates (1980), e Outras Estórias, de Pedro Bial (1999). O trabalho aborda essas duas adaptações, explicitando e comparando as diferentes escolhas tomadas pelos dois diretores para transpor a mesma obra para o cinema. Também analisa o próprio conceito de adaptação, e como as intenções de cada diretor influenciaram no resultado final da transposição da obra literária para as telas do cinema.
Este trabalho propõe analisar o conto “Duelo” presente na obra Sagarana (1946), escrita por João Guimarães Rosa. As análises aqui elucidadas compreenderam aspectos literários que vão da narrativa à questão da figura do homem sertanejo na visão rosiana, como é o caso do personagem Turíbio Todo que surpreende a esposa, dona Silivana, em adultério com o soldado Cassiano Gomes. Rosa sugere uma releitura acerca destes personagens sertanejos, dá-lhes voz e mérito num contexto literário em que os heróis são burgueses e ocupam altas esferas sociais. O sertão rosiano é considerado um lugar maravilhoso, onde homem e natureza ao ocuparem o mesmo ambiente se mesclam, dialogam entre si e evidenciam a paisagem natural e rústica do sertão brasileiro. O autor intenta evidenciar um novo sertão composto não somente por misérias, mas por gente simples, de valor e com cultura. A natureza é bela, harmônica e forte. Rosa cria enigmas ao longo da narrativa “Duelo”, e ocupa o leitor de modo a retirá-lo de sua zona de conforto, pois a história possui clímax em toda a sua sequência, início, meio e fim. Quanto ao referencial teórico, recorremos às bases teóricas do crítico argentino Jaime Alazraki, que sugere uma nova constituição de gênero intitulado por Neofantástico. O referido gênero possui três características: a visão, a intenção e o modus operandi, que foram aplicadas ao conto “Duelo”, numa abordagem crítico-reflexiva. Ademais, esta dissertação contempla recursos utilizados por Rosa como o uso de epígrafes, metáforas, neologismos e demais aspectos linguísticos inovadores para a literatura brasileira, durante o século XX e até os dias atuais.
Neste artigo, buscamos contextualizar o legado de Mikhail Bakhtin relacionado a
Goethe e apresentar informações sobre a atualização da obra do próprio Bakhtin, a qual teve, em
anos recentes, sua versão completa e definitiva. Também realizamos um pequeno estudo
comparativo do tratamento expressivo dispensados aos números no Fausto de Goethe, em
Gargântua e Pantagruel, de Rabelais, e no conto “O recado do morro”, de Guimarães Rosa, de
uma perspectiva bakhtiniana