Guimarães Rosa empreende, ao longo de toda a sua obra, verdadeira cruzada em prol da reflexão, desencadeando, através da linguagem, um processo de desconstrução, que desvela constantemente sua própria condição de discurso e seu conseqüente caráter provisório. Para Guimarães Rosa, "somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo", e é com esse intuito que ele se entrega de corpo e alma à tarefa de revitalização da linguagem, que vê como verdadeira missão, ou, em suas próprias palavras, "compromisso do coração".
O conto "Desenredo" de Guimarães Rosa é a encenação do processo poético em que a linguagem
não apenas apresenta um tema, como também o representa metalinguística e desconstrutivamente no próprio ato da feitura-leitura do texto. O tema do adultério é, portanto, tema patente e moto latente do processo de desmonte e autorreflexão sobre o próprio fazer poético. Nesse sentido, a linguagem do conto mobiliza processos paródicos, desconstrutivos e metalinguísticos para construir o tecido narrativo.
Este trabalho faz parte das investigações acerca das relações entre literatura brasileira e história, objeto de dois projetos de pesquisa em curso na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O artigo pretende estabelecer um percurso de leitura que envolve quatro autores brasileiros de épocas distintas, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Raduan Nassar e Bernardo Carvalho. A ficção desses autores provoca a emergência de um pensamento crítico-literário renovado. Defendemos a
ideia de que há um “mundo crítico do texto” que dialoga e desconstrói o “texto crítico do mundo” afetado pelo contexto com/contra o qual se relaciona. Deste modo, interrogamos na literatura de que forma se estabelecem o pensamento histórico, social, político e filosófico, dentre outros entre-lugares discursivos.
Este estudo busca evidenciar como a representação do feminino e masculino é desconstruída a partir da/do personagem Diadorim na obra Grande Sertão: Veredas (2001), de João Guimarães Rosa. Realizou-se inicialmente pesquisa bibliográfica sobre Desconstrução em Jacques Derrida (2008) e a concepção de gênero em Judith Butler (2008). Em função do contexto exposto pela pesquisa bibliográfica, foram selecionados trechos da obra de estudo, para averiguar de que maneira o feminino e o masculino são representados na/no personagem. A partir desse estudo, espera-se contribuir com a pesquisa na área, abrindo a perspectiva para aprofundarmos e complementarmos as discussões em relação aos conceitos mobilizados por Derrida, na perspectiva dos estudos da Desconstrução juntamente com a concepção de gênero exposta por Judith Butler. Espera-se contribuir para uma maior reflexão sobre a desconstrução, gênero e representação, levando em conta os espaços produzidos pela língua e as diferenças que as norteiam.