Através de pesquisa aos livros da biblioteca particular de João Guimarães Rosa, este artigo revela o diálogo do escritor com homens e livros e os impactos que estes tiveram em suas elaborações imaginárias sobre o Brasil. Concebida como expressão de uma proposta de arte que acabou por oferecer uma interpretação do país em meados do século XX, a literatura de Guimarães Rosa, mesmo filtrada pelo profundo trabalho de elaboração linguística e poética, oferece uma perspectiva de análise do significado do trabalho artístico e intelectual na elaboração de uma visão do Brasil. Este artigo propõe uma perspectiva de análise da obra literária de Guimarães Rosa e sugere alguns pontos de investigação que podem ser proveitosos para historiadores dispostos a investir na pesquisa da obra rosiana.
Numa perspectiva de análise que considera literatura e seus suportes de publicação inseparáveis, este artigo refere-se à literatura de Guimarães Rosa como tributária de códigos e matrizes eruditas, e também de uma cultura de massa brasileira, dos anos 1940 e 1950. Em alguma medida esteticamente devedora de artistas plásticos que ilustram seus livros, presumidamente disponível para intensas trocas intertextuais dos anos do Após-Guerra e trocas intelectuais do pensamento social do Brasil interpretado a partir dos anos 1930, à literatura de Guimarães Rosa pode-se acrescentar a intervenção de itens e materiais identificados a uma cultura de massa, evidentemente retrabalhados pelo escritor no registro de sua invenção e de seu fazer artístico erudito e pluriliterário. Pode-se avaliar, assim, numa época de grande interação de textos artísticos e interpretativos do Brasil à disposição das artes, a sofisticação com que o escritor, pela verdade própria da literatura, pôde figurar o Brasil, revisando a máxima da impossibilidade literária de interação erudição e massa numa obra da qual a crítica fixou uma tradição analítica que a identifica mormente com a erudição. Não é só dos materiais da erudição que vive a obra rosiana. Evidenciar isso é o principal propósito deste artigo.
Este artigo analisa a representação de leitores e da leitura que realizam alguns textos literários de João Guimarães Rosa, vistos do ponto de vista no qual literatura é concebida como textos da cultura que são transferidos em livros como suporte material.
Análise literária examina o desenho/ilustração apenas enquanto metalinguagem. Aqui, o conto "As Margens da Alegria" e o livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, são examinados numa perspectiva em que o desenho/ilustração é a expressão de uma escrita da visualidade que se manifesta, nos textos de Rosa, pelas paisagens literárias desenhadas por palavras, e, em seus livros, nas ilustrações características das primeiras edições. Esta perspectiva instiga a análise da obra rosiana pela relação entre seus textos e seus livros.