Esse artigo analisa as relações de sentido entre a novela “Buriti”, de João Guimarães Rosa, e a cultura dos povos originários da América. A partir da leitura estilística da obra, cotejada com textos que trazem parte da tradição das culturas nativas, esse estudo propõe novas perspectivas interpretativas para a novela rosiana.
Esse texto analisa um trecho da novela “Buriti”, de João Guimarães Rosa, no qual se pode entrever uma menção a um mito da tradição Xerente recolhido pelo etnólogo alemão Curt Nimuendaju. Por meio da análise comparativa dos textos desses autores, é possível estabelecer nexos semânticos entre a mitologia dessa etnia e a fatura literária rosiana, sobretudo em relação ao protagonista, Miguel. Essa relação se dá tanto pela temática da violência, quanto pela associação entre a velhice e a figura do tamanduá, elemento comum na produção dos dois autores estudados.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Literatura Brasileira
O objetivo desta tese de doutorado é propor uma leitura interpretativa de Buriti, de João Guimarães Rosa. Para compreender o erotismo característico da narrativa, tema desta tese, investiga-se a forma como se constitui o espaço narrativo e seu caráter mítico. Num espaço ex-cêntrico, pleno de possibilidades, há ocasião para o questionamento de práticas e preceitos relacionados à moral sexual da sociedade patriarcal brasileira, em trama híbrida entre os planos do mito e da história. O estudo dos elementos da natureza e sua valoração erótica, considerando sua relação com as personagens e o desenvolvimento da trama, é o ponto de partida. Desde os elementos mais evidentes, como o Buriti Grande ou o Brejo do Umbigo, até aqueles que parecem meros acessórios, revela-se o processo de erotização da natureza empreendido pelo autor, sobretudo na flora e solo sertanejos, constituindo o corpo da noite. A partir de indicações do texto, a noite, a lua e o mutum, bem como sua relação com a mitologia dos índios brasileiros, são também foco das análises. Considerando a filiação por varonia dos filhos do sertão, a noção de totemismo, tomada da antropologia estrutural, serve de mediadora para o estudo do encontro entre os representantes de dois clãs familiares próprios da ficção rosiana, Maria da Glória, filha do buriti e Miguel, do mutum, considerando que estes personagens trazem em seu nome, a marca do sertão. Por fim, as insistentes referências ao corpo das personagens e seus territórios eróticos, homólogo ao corpo da natureza, são analisados em sua relevância para a marcação de pontos críticos da narrativa. A abordagem privilegia as marcas estilísticas e aproveita, em momentos pontuais, algumas contribuições da psicanálise.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Literatura Brasileira
A presente dissertação estuda a novela Dão-Lalaão, do autor mineiro João Guimarães Rosa. Articula-se a proposta de uma análise estilística do texto com a interpretação de cunho psicanalítico, sobretudo a partir de Freud. Situa-se, primeiramente, a relação entre este estudo e a fortuna crítica da obra selecionada, discutindo aspectos relevantes dos trabalhos de outros estudiosos. Ao abordar a relação entre o foco narrativo e o protagonista e utilizando-se de indicações do próprio Guimarães Rosa presentes em outras obras e em correspondências com seus tradutores, utiliza-se a metáfora do badalar de um sino como homólogo aos movimentos internos e externos de Soropita, sobretudo em torno da questão da manutenção do recalque como forma de preservar sua estabilidade social e pessoal. Esta dissertação reflete ainda sobre uma possível disposição melancólica de Soropita, além de estudar aspectos significativos do amor entre este personagem e sua esposa, Doralda, que mantém relação com a dinâmica do recalque. Aponta-se, por fim, para o caráter cíclico e inconcluso da presente narrativa, como sendo sua marca distintiva, não havendo, no nível do personagem principal, solução possível para seus dilemas. As questões histórico-sociais, pertinentes ao contexto abarcado pela novela, também serão articuladas ao estudo do estilo e à problemática psicanalítica abordada.