O corpo, em especial, o corpo presente, parece ser um ponto de encontro entre o universo literário, a leitura literária e a dança. Na literatura, são diversas as narrativas em que personagens passam por transformações ao entrarem em contato com o mundo na relação corporal que estabelecem com ele. No conto “As Margens da Alegria”, de João Guimarães Rosa, a ser analisado neste trabalho, o protagonista se vê tocado pelo que presencia. Na leitura literária, por sua vez, o corpo a corpo do leitor com texto permite uma relação sensorial com ele. Para Zumthor (2000), quando é estabelecido um vínculo com o texto, a experiência do ato de ler é presenciada no corpo, é performance; o texto, na leitura, dança no corpo do leitor, quando ele se coloca presente. Na dança (VIANNA, 2005), principalmente naquela em que não se visa exclusivamente uma destreza técnica, o trabalho corporal acontece na escuta do corpo, um corpo que se quer presente.
O objetivo deste artigo é uma rápida investigação de como o corpo de Diadorim é representado na obra Grande sertão:veredas, de João Guimarães Rosa. Para tanto, propomos uma análise dos principais encontros desse personagem com Riobaldo. Nossa proposta, então, é acompanhar estes encontrose tentar descobrir como a “neblina” se estrutura no corpo de Diadorim.
Este trabalho intenta refletir sobre a relação entre corpo e linguagem, a partir dos modos como ela é encenada em Nove noites, de Bernardo Carvalho, e “Meu tio o iauaretê, de Guimarães Rosa. No romance de Carvalho, narradores, agenciados pelo narrador-romancista, tentam esclarecer, a partir de múltiplos relatos, o suicídio de Buell Quain, que mutilou o próprio corpo, aniquilando-se, como resposta a um conflito entre seus desejos e o processo civilizatório que incide na existência de cada sujeito e a constitui. No conto de Rosa, por sua vez, o leitor depara com um narrador-escritor que, encenando o discurso oscilante do onceiro-jaguar, relata como o matou para salvar-se de ser devorado. Trata-se, portanto, de uma narrativa sobre a aniquilação de um corpo que, como último recurso à sobrevivência, volta-se à natureza animalesca, diante da incidência da linguagem impossível de realizar-se satisfatoriamente na língua (dominadora) do outro. Como recursos a essa reflexão, são agenciadas a concepção de linguagem de Benveniste (1989a, 1989b, 1976a, 1976b), a noção de ficção de Iser (2002) e a leitura do conto de Rosa feita por Wey (2005).
Há leituras que impõem uma escrita, a leitura da obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, é uma delas. Partindo da tese de que a psicanálise pode realçar ainda mais a singularidade desta obra - tomando o trabalho intrínseco à própria análise, como comprovando, no real, o que é próprio do trabalho do significante, em sua dimensão de letra, na constituição de um sujeito cujo corpo se decanta de uma travessia -, é que tomamos o texto de Guimarães no que ilustra e expõe na travessia de Riobaldo o que testemunhamos, ou vislumbramos, a cada análise.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Literatura Brasileira
O objetivo desta tese de doutorado é propor uma leitura interpretativa de Buriti, de João Guimarães Rosa. Para compreender o erotismo característico da narrativa, tema desta tese, investiga-se a forma como se constitui o espaço narrativo e seu caráter mítico. Num espaço ex-cêntrico, pleno de possibilidades, há ocasião para o questionamento de práticas e preceitos relacionados à moral sexual da sociedade patriarcal brasileira, em trama híbrida entre os planos do mito e da história. O estudo dos elementos da natureza e sua valoração erótica, considerando sua relação com as personagens e o desenvolvimento da trama, é o ponto de partida. Desde os elementos mais evidentes, como o Buriti Grande ou o Brejo do Umbigo, até aqueles que parecem meros acessórios, revela-se o processo de erotização da natureza empreendido pelo autor, sobretudo na flora e solo sertanejos, constituindo o corpo da noite. A partir de indicações do texto, a noite, a lua e o mutum, bem como sua relação com a mitologia dos índios brasileiros, são também foco das análises. Considerando a filiação por varonia dos filhos do sertão, a noção de totemismo, tomada da antropologia estrutural, serve de mediadora para o estudo do encontro entre os representantes de dois clãs familiares próprios da ficção rosiana, Maria da Glória, filha do buriti e Miguel, do mutum, considerando que estes personagens trazem em seu nome, a marca do sertão. Por fim, as insistentes referências ao corpo das personagens e seus territórios eróticos, homólogo ao corpo da natureza, são analisados em sua relevância para a marcação de pontos críticos da narrativa. A abordagem privilegia as marcas estilísticas e aproveita, em momentos pontuais, algumas contribuições da psicanálise.
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA
Esta dissertação figura o percurso de um desejo de articulação entre a metacrítica dos saberes sobre o corpo sexuado a partir do século XVIII até a contemporaneidade e a crítica da narrativa de Guimarães Rosa ? Grande sertão: veredas. Nesse sentido, a trajetória discursiva do corpo se espelha na análise da obra através do diálogo que se instaura entre ciência e poética, a partir do que se defende a tese em favor da possibilidade de leitura da voz narrativa como a voz de um desejo de confissão, que busca tanto a perpetuação do prazer erótico no contar a história, bem como a compreensão da experiência via imagens do corpo.
Este ensaio se propõe a analisar, em dois contos de Tutaméia ( 1967), "Palhaço da boca verde" e " Sinhá Secada", como os corpos dos personagens adoecidos são narrados e como esses corpos revelam a dor da alma. Para Rosa, há um sentido para a dor, que instalada no corpo, conduz a alma a algum tipo de aprendizagem. Conforme Barrento (2006), o mundo moderno tem evitado a dor a todo custo, esquecendo-se do valor humano nela contido. Os personagens dos contos em estudo não conhecerão o alívio de suas dores, mas atravessam um percurso de aprendizagem que tem como desfecho uma espécie de cura. O conceito da dor será discutido conforme Shopenhauer e outros filósofos, bem como a abordagem de Rosa, médico que deixou de clinicar para se dedicar a uma outra maneira de sondar o ser humano. A morte e a depressão estão presentes nos dois contos,porém, sob o olhar sensível e peculiar do autor mineiro.
Este ensaio se propõe a analisar, em dois contos de Tutaméia ( 1967), "Palhaço da boca verde" e " Sinhá Secada", como os corpos dos personagens adoecidos são narrados e como esses corpos revelam a dor da alma. Para Rosa, há um sentido para a dor, que instalada no corpo, conduz a alma a algum tipo de aprendizagem. Conforme Barrento (2006), o mundo moderno tem evitado a dor a todo custo, esquecendo-se do valor humano nela contido. Os personagens dos contos em estudo não conhecerão o alívio de suas dores, mas atravessam um percurso de aprendizagem que tem como desfecho uma espécie de cura. O conceito da dor será discutido conforme Shopenhauer e outros filósofos, bem como a abordagem de Rosa, médico que deixou de clinicar para se dedicar a uma outra maneira de sondar o ser humano. A morte e a depressão estão presentes nos dois contos,porém, sob o olhar sensível e peculiar do autor mineiro.