Esta dissertação consiste no estudo da categoria do “super-regionalismo” proposta por Antonio Candido em “Literatura e subdesenvolvimento” (1970). Investiga, ainda, a leitura crítica elaborada por Antonio Candido do romance Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, especialmente em “O Homem dos Avessos” (1957) e “Jagunços mineiros, de Cláudio a Guimarães Rosa” (1970). Sugere-se, então, que a proposição teórica de Antonio Candido, associada à análise que elabora do romance rosiano, reitera hierarquias sociais e culturais que, por sua vez, veem-se perturbadas e mesmo questionadas pela obra de Guimarães Rosa
Publicado pela primeira vez no ano de 1956, Grande sertão veredas, de João Guimarães Rosa, traz um jogo de deslizamentos capaz de revelar incertezas, mesmo daquilo que parecia ser naturalizado. A partir disso, vemos que as categorias de civilização e barbárie perdem, na obra, sua rigidez, resvalando entre o jagunço do sertão mineiro e o homem letrado do meio urbano. Dessa forma, tencionamos ler o romance de Rosa sob a chave de um projeto baseado no espaço geográfico regional, o Sertão, que se contrapõe ao projeto de modernização, pautado no desenvolvimento do meio urbano, que prometia avançar cinquenta anos de progresso em apenas cinco anos de governo. Para tanto, por meio da contribuição dos pressupostos teóricos de Antonio Candido, será possível problematizar as categorias humanas civilização e barbárie. Paralelamente, com um arcabouço teórico composto por Heloisa Starling e Silviano Santiago, almeja-se analisar o enlace entre o sertão rosiano e o projeto de modernização em andamento no Brasil no decênio de 1950. A partir de uma pesquisa de natureza bibliográfica e interpretativa, portanto, pretende-se analisar os deslizamentos e as tensões entre civilização e barbárie, modernização e jagunçagem presentes em Grande sertão veredas.