Este artigo analisará a novela Uma estória de amor (Festa de Manuelzão), de João Guimarães Rosa, como narrativa da modernização da sociedade agrária brasileira. O estudo se fará à luz das fortes similaridades detectáveis entre os personagens Filemon e Baucis que integram as Metamorfoses de Ovídio e, sobretudo, o Fausto de Goethe como figuras ligadas à tradição e ao apego à terra, e os da obra de Rosa, no que diz respeito à oposição entre arcaico e moderno.
Pretende-se investigar como a ambivalência no conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa, não se restringe ao significado da palavra famigerado, mas, partindo dela, é possível entender como aspectos opostos se tornam elementos estruturantes da narrativa, que, por sua vez, incorpora e problematiza as diversas ambiguidades geradas por certa modernização que chega a realidade do sertão brasileiro. Nota-se, portanto, que a linguagem e sua significação não podem ser compreendidas se desligadas dos fatores sociais e históricos, assim como a poética de Guimarães Rosa.
Este trabalho esboça uma leitura sobre o funcionamento esquemático do projeto ficcional de Guimarães Rosa no conto ‘Os irmãos Dagobé’, que está contido no livro Primeiras Estórias. Enredada na primeira, onde se vislumbra uma possível vitória da modernidade sobre uma lógica considerada arcaica em funcionamento no locus sertanejo, está uma segunda estória, cuja ambiguidade do narrador aponta para vieses complexos, que permitem tecer uma reflexão mais crítica sobre o processo de modernização do Brasil.
Este breve estudo pretende problematizar alguns aspectos importantes das obras de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa - São Bernardo e Grande sertão: veredas - que, inseridos em nossa história literária, buscaram, por meio de recursos estéticos diversos, transfigurar uma realidade difícil de ser abarcada, tentando identificar o que essas obras têm a nos dizer enquanto narração de um país que ainda está em busca de encontrar seu próprio caminho no mundo. Pretende-se, então, refletir alguns aspectos dessa relação entre literatura e nação, principalmente como a literatura pode dar a ver, por meio de sua transfiguração da realidade, os mecanismos que regem a sociedade, em especial as forças que se estabeleceram nas diversas fases de nosso processo de modernização.
Este artigo tem três objetivos. Em primeiro lugar, busca analisar o papel decisivo desempenhado pela canção popular na composição do projeto literário de Guimarães Rosa. Em segundo lugar, pretende apontar, ao menos em parte, algumas das razões que ajudam a entender a afinidade do compositor popular brasileiro com a obra de Guimarães Rosa. Em especial, o artigo procura compreender o impacto que a leitura da obra de Guimarães Rosa imprimiu na sonoridade elegante e sofisticada das composições de Tom Jobim ? sobretudo, nos dois discos autorais produzidos na primeira metade da década de 1970, Matita Perê (1973) e Urubu (1975). Por último, este artigo arrisca uma hipótese: a existência de uma longa e venerável trama de vínculos entre a literatura e a canção popular brasileiras.
Publicado pela primeira vez no ano de 1956, Grande sertão veredas, de João Guimarães Rosa, traz um jogo de deslizamentos capaz de revelar incertezas, mesmo daquilo que parecia ser naturalizado. A partir disso, vemos que as categorias de civilização e barbárie perdem, na obra, sua rigidez, resvalando entre o jagunço do sertão mineiro e o homem letrado do meio urbano. Dessa forma, tencionamos ler o romance de Rosa sob a chave de um projeto baseado no espaço geográfico regional, o Sertão, que se contrapõe ao projeto de modernização, pautado no desenvolvimento do meio urbano, que prometia avançar cinquenta anos de progresso em apenas cinco anos de governo. Para tanto, por meio da contribuição dos pressupostos teóricos de Antonio Candido, será possível problematizar as categorias humanas civilização e barbárie. Paralelamente, com um arcabouço teórico composto por Heloisa Starling e Silviano Santiago, almeja-se analisar o enlace entre o sertão rosiano e o projeto de modernização em andamento no Brasil no decênio de 1950. A partir de uma pesquisa de natureza bibliográfica e interpretativa, portanto, pretende-se analisar os deslizamentos e as tensões entre civilização e barbárie, modernização e jagunçagem presentes em Grande sertão veredas.