O presente ensaio parte da estória “Os chapéus transeuntes”, de Guimarães Rosa, que oferece o material linguístico a ser utilizado em duas possibilidades de atividades didáticas. Na primeira, é fornecida uma listagem de palavras inusuais ou neológicas encontradas no conto. Na sequência, uma outra lista (seguimos procedimento rosiano, que, como se sabe, adorava listas), agora de palavras dicionarizadas, tenta distinguir as nuances de expressões que gravitam ao redor do tema central do conto, a “soberba”, com o intuito de forçar a atenção ao detalhe e perceber que cada termo, por mais que seja aparentado a outros, é singular. A metodologia do artigo é descritiva, apresentando as duas sugestões de propostas didáticas, junto com seu material para aplicação (as listas). Já a metodologia das atividades é aberta, de acordo com o planejamento de cada professor, a partir das diretrizes expostas no artigo. O público-alvo dos dois exercícios pode ser de discentes do Ensino Médio ou mesmo de cursos de graduação em Letras. Como resultado, espera-se que o aluno se aproxime do autor considerado "difícil" através de um viés incomum que pode suavizar esse primeiro contato. Para além disso, despertar sua criatividade linguística latente (a partir da atividade um), bem como ampliar seu vocabulário de forma sistemática (com a atividade dois).
Abordagem alegórica de temas como o nome do autor, a função política da literatura, a relação da crítica com a obra literária e a intratextualidade, a partir de releituras de Tutameia – Terceiras Estórias (1967) de Guimarães Rosa.
Este artigo parte de um pressuposto hipotético que jamais poderá se confirmar e menos ainda se infirmar, que jamais poderá se resolver ou se dissolver em toda sua plenitude, e por aí mesmo alcançará sua pervivência (na perspectiva do Fortleben benjaminiano) e imortalidade, por meio de múltiplas tentativas de interpretação-tradução. Trata-se de um koan protobiográfico legado por Guimarães Rosa a seus leitores, que abarca o conjunto de sua obra e alcança sua morte enigmática, previamente anunciada em vários de seus escritos e em múltiplas declarações sábia e parcimoniosamente lançadas ao vento por meio de eficazes passadores de vozes. Para explicitar os elementos desse koan, e com apoio no último e conclusivo verso lançado por Rosa (“as pessoas não morrem, ficam encantadas”), o conto “Conversa de bois” será percorrido em busca de eventuais pistas de convergência temática, que prenunciariam o desenredo de Grande sertão: veredas e a morte-ressurreição de Guimarães, ocorrida exatamente três dias após a posse na Academia Brasileira de Letras. Buscamos responder à seguinte questão, no que se refere à pervivência: o que se pode inferir das alterações incidentes entre a versão original do conto (constante em Sezão, 1937) e a efetivamente publicada em Sagarana (1946)?
Tal como na epopeia de Rama (herói de Ramayana), Augusto Matraga cumpre um período de banimento na mata, conduzido por um casal de “sadhus” (ascetas que se dedicam à vida espiritual) e um sacerdote. Em seu “ashram” (local ermo e selvático, destinado a práticas espirituais), Augusto aproxima-se dos desmunidos e dedica-se a meditação e preces, precisamente como Rama. Ao termo de sua ascese, Augusto confronta-se voluntariamente com seu duplo, Joãozinho Bem-Bem; ao final de uma coreografia marcial dedicada a Shiva, entrega-se à Bela Morte e alcança redenção e renome. O episódio espelha a missão para a qual Rama é predestinado pelos deuses: liquidar definitivamente Ravana, o demônio de dez cabeças. Em leitura contrastiva com textos de diversas origens, o conto “A hora e vez de Augusto Matraga” será percorrido em busca de eventuais pistas que permitam também perscrutar o sentido da morte de Guimarães Rosa, anunciada previamente em sua “autobiografia irracional” e amplamente inspirada no topos homérico da Bela Morte (καλòς θάνατος).