A proximidade entre música, filosofia e literatura na tradição alemã e seus métodos de aproveitamento dessas relações marcou profundamente João Guimarães Rosa, possibilitando-lhe desenvolver trilhas próprias a partir dos substratos oferecidos pelas cantigas tradicionais brasileiras. Os efeitos gerais das técnicas musicais em Sagarana, a influência de conceitos da filosofia de Heidegger, a utilização do Grundmotiv wagneriano em "O burrinho pedrês" e "Sarapalha" e as semelhanças entre a narrativa "A hora e vez de Augusto Matraga" e a ópera Parsifal, de Wagner, constituem o objeto desta reflexão.
Este artigo analisa aspectos numerológicos e musicais em “Corpo fechado”,
Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa. Sugere-se que o texto possa ter a sua fruição
ampliada por meio de outras metodologias e adensamento analítico. Elementos de
numerologia (conotações místicas dos números), teoria musical (alusão à forma sonata e à
estrutura da sinfonia clássica – Haydn, Mozart e Beethoven) e teoria literária comparada são as
ferramentas teóricas para essa leitura.
As relações entre literatura e música constituem o objeto de pesquisa desta tese, dadas por meio da leitura de Sagarana, em especial: O burrinho pedrês, Sarapalha, Corpo fechado e A hora e vez de Augusto Matraga. O conceito de musicalidade incorpora as virtualidades sonoras da língua, as cantigas populares e as técnicas e formas eruditas da música, tais como contraponto e sinfonismo.