A proposta desta dissertacao e detectar a camada simbolica, mitica, mais precisamente, as estruturas miticas subjacentes a quatro contos de "Primeiras estorias", de Guimaraes Rosa: "A menina de la", "Um moco muito branco", "A benfazeja" e "Nada e a nossa condicao", e o que decorre disso.
Estas Estórias, livro no qual convivem textos de tons e estilos diferentes, obrigou-nos a respeitar a autonomia própria da forma "conto", na realização de uma leitura que rastreia duas constantes, morte e alteridade, presentes nas narrativas do volume, de forma constitutiva ou tangencial. A presença da morte física e/ou metafórica se faz sentir, em maior ou menor proporção, no conjunto textual, bem como a alteridade, ligada ao duplo, ao cultural e ao confronto com o outro, viabilizando encontros decisivos para inesperadas alterações no destino das personagens. Embora determinados contos se integrem perfeitamente ao fio temático, outros não se encaixam com igual exatidão, devido à impecável autonomia. Assim, frente à expressiva diversidade da obra, preservamos diferenças e semelhanças, detendo-nos em pontos, ecos ou ressonâncias comuns, dando-lhes tratamento distinto em realação à temática escolhida.Sempre em função da autonomia, como percurso teórico de nossa pesquisa analítico-descritiva, escolhemos aspectos da psicanálise, particularmente o estranho freudiano, que nos permite perceber as relações morte/alteridade nas narrativas e, através das várias perspectivas adotadas, buscamos perceber as maneiras de tratamento dessas constantes e sua vinculaçào com o conjunto de producão ficcional do autor.
Este artigo consiste em evidenciar como a religiosidade permeia, explícita ou implicitamente, a produção literária de Guimarães Rosa, tendo por base os contos “A hora e a vez de Augusto Matraga” (Sagarana), “A menina de lá” (Primeiras estórias); “Bicho mau” (Estas Estórias) e o “pacto” de Riobaldo (Grande sertão: veredas). A análise incide em pontuar certas constantes do imaginário religioso e sua relevância em cada narrativa e também na instauração do questionamento sobre a verdade oculta que rege o universo e na busca do “aprender a viver”, acentuada preocupação do autor mineiro.