Este trabalho discute a criação de Diadorim e Doralda, personagens rosianas, por uma perspectiva mitopoética, trazida por Benedito Nunes e iluminada pelas teorias de Mircea Eliade e Ernst Cassirer. Discutir essas personagens não poderia prescindir do exame das narrativas em que transitam, Grande sertão: veredas e Corpo de Baile, bem como da análise da relação entre as personagens e seus pares amorosos. Assim, abre-se uma reflexão que abarca os conceitos de mito e de linguagem poética, a construção narrativa de Guimarães Rosa e o desenho das personagens nessa paisagem, que nos levam a perspectivas plurais, contemplando o já conhecido hibridismo e a movência das narrativas rosianas, em que se imbricam o mítico, o místico e o metafísico. Cuidadosamente engendradas, as duas narrativas se configuram por um jogo de mostra/esconde que não oferece possibilidade de respostas, mas trazem outras inquietantes perguntas a serem somadas às que o leitor já trazia ao abrir os livros.
Na obra de Guimarães Rosa, encontramos uma linguagem flutuante, em que os signos são intercambiáveis e tudo é e não é, ao mesmo tempo.Partindo desse princípio, os elementos da narrativa não podem ser lidos como elementos estanques, é preciso atentar para as novas e inesperadas dimensões que se abrem a cada página. Entre essas, a apresentação do amor é analisada como forma “misturada”, em que cabem todas as mulheres amadas. Para tanto, o autor resgata o feminino como valor positivo e o próprio amor, como “signo e sentimento” que não pode ser limitado pela desordem da realidade empírica, mas encontra seu espaço na linguagem onde tudo é possível. A leitura da relação amorosa entre Riobaldo e Diadorim é uma possibilidade de descortinar a leitura do“mundo movente” e o questionamento do homem e da própria narrativa.