Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro
Este trabalho procura refletir sobre as representações das paisagens rurais nos textos narrativos estrangeiros e nacionais para pensar as mudanças sociais engendradas na transição ruralidade/modernidade. Nesse sentido, tratou-se de as objetivar e interpretar como fatos sociais que são, levando-se em conta os diferentes processos simbólicos de que resultaram os textos literários em questão. Pensando primeiro na noção durkheimiana de construção social de significados e símbolos, na auto representação relacional da sociedade com seu meio, objetivamos e interpretamos os fatos sociais de acordo com as diferentes abordagens das Ciências Humanas para pensar os processos socioculturais e históricos dessa relação. Dessa forma, o conceito cosgroviano de paisagem, como ideia, é fundamental, pois permite estudar a trama das relações humanas, inscrita num meio natural e cultural. Por fim, refletimos sobre o processo de criação literária de representação dos fenômenos sociais.
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Letras
O objeto desta tese é Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, a qual resolve dois problemas: o da unidade da obra (formada de sete estórias) e o da sua relação com os romances de Jorge Amado e José Lins do Rego. A análise baseia-se na Antropologia e na Psicologia. Definições de magia, religião e ciência e relações entre elas provêm de Frazer, Tylor, Nina Rodrigues, Bastide e Prandi. Descrições e interpretações das religiões são tomadas dos estudos sobre cultos afro-brasileiros. Iniciados por Nina no final do século XIX, expandiram-se, a partir da década de 30, com as contribuições de Arthur Ramos, Edison Carneiro, Gonçalves Fernandes, Waldemar Valente, Câmara Cascudo e Mário de Andrade, os quais também embasam esta tese. Esse período coincide com o da publicação das obras literárias que constituem o corpus analisado ('30-56). A estruturação da Universidade no Brasil transferiu para professores do ensino superior a tarefa de efetuar as pesquisas antes feitas por médicos e folcloristas. A consolidação dos Programas de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia transformou-os em espaços de ciência que hoje produzem os saberes sobre religião e magia, motivo pelo qual trabalhos vindos daí integram nossa plataforma teórica. Da parte da Psicologia, Freud e Jung apoiaram-se na etnografia e na antropologia do fim do XIX e início do XX para teorizarem sobre neurose e psicose, consciente e inconsciente e constituirem técnicas psicoterápicas. Ambos assumem que a religião é realidade antes psicológica que teológica (formada da projeção de conteúdos internos), que as leis da associação de idéias subjacentes à magia são as mesmas que subjazem às produções do inconsciente (sonhos, neuroses), que a ciência não suprime a magia e a religião. O trabalho estrutura-se em cinco capítulos. O primeiro apresenta os conceitos nucleares e caracteriza formas religiosas presentes nas obras literárias. Não esgota a teoria; definições e caracterizações de sistemas de crenças importantes para entender uma obra específica serão dadas quando a análise o exigir. O segundo resolve o problema da unidade. Por ser esta uma tese sobre Corpo de baile, será o mais extenso, em virtude da necessidade de mostrarmos os laços entre uma e outra narrativa. O terceiro e o quarto preparam a resolução do segundo problema, apresentada no quinto. Nas obras, a magia soluciona problemas de saúde, amor e negócios; expressa-se na forma de feitiço, rezas bravas e cerimônias. Quanto às religiões, representam-se o catolicismo (popular, oficial e messiânico), os cultos afros (jeje-nagô e banto), o candomblé de caboclo e o catimbó. Espiritismo é mencionado de passagem em duas obras apenas e a umbanda não aparece. Em função disso, considerações teóricas sobre elas serão menores, visando esclarecer, pelo contraponto, as outras. Todas as expressões religiosas mostram-se em seu lado mágico. A ciência figura ao lado da magia e da religião, às vezes isolada, mas nunca entronizada como visão de mundo privilegiada.
A tese de doutoramento ora apresentada promove uma leitura de parte da obra de cinco autores regionalistas brasileiros, em textos publicados entre o princípio do século XX e meados da década de 60 do mesmo século, a fim de observar os significados do humor, pautado na relação entre cômico e trágico, em diferentes momentos do regionalismo literário no Brasil. A escolha do corpus da pesquisa, em que constam Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto, Urupês, de Monteiro Lobato, Fogo morto, de José Lins do Rego, Sagarana, de João Guimarães Rosa e O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho, procurou contemplar diferentes modelos de composição da prosa literária de feição regionalista, o que possibilitou a reflexão em torno da natureza de diferentes realizações do regionalismo no século XX. A análise das obras, sob o prisma do humor, permitiu que se verificasse a articulação entre a natureza reflexiva e as particularidades da forma humorística e o processo de desenvolvimento, consolidação e transfiguração da tonalidade crítica de que se revestiu o texto regionalista no Brasil. A leitura das obras propostas permite constatar que, por meio de diferentes estruturas narrativas, o humor articula-se à inserção de temporalidades que se agregam à espacialidade do texto, promovendo um aprofundamento da análise do sujeito que habita um único espaço, mas transita entre diferentes tempos.
Doutorado em Ciências Sociais / Área de Concentração: Cultura e Sociedade
A porta do sertão aberta pela Tese é magica, festiva, poética, triste, árida, mítica; é construída com rimas, sonhos, cores, santos, demônios, pedras, morte e vida. Evoca a música que vem dos tambores, dos pífanos, das violas e das rabecas. Exibe trajes com bordados coloridos, da chita, do couro trabalhado dos gibões, dos mantos dos reis, das composições bricoladas com retalhos e fitas coloridas. O sertão apresentado ressalta a riqueza excessiva de um imaginário repleto de animais bizarros, anjos, demônios, e homens que sentam à mesma mesa, numa espécie de confraria mágica. Trata-se de um sertão que se mostra por meio de uma vegetação quase rasteira, formando uma massa ocre-terra, ocre-vegetação, que se estende e oprime os fios de espelhos d´água que insistem em correr entre as terras secas. É desse contraste que nasce a estética do sertão: das imagens plásticas e poéticas que o homem sertanejo cria como elementos que complementam ou rivalizam com a geografia árida. Os suportes teóricos da Tese vem da obra de Edgar Morin e de Claude Levi-Strauss. Da literatura traz as vozes de José Lins do Rêgo, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Da estética, como filosofia, recruta as reflexões de Erwin Panofsky e Clement Greenberg. O estilo narrativo do texto assume a rima dos cantadores de cordel e poetas populares, no ângulo criador do homem e da natureza do sertão. A ideias e argumentos se relacionam num tempo não-linear, num tempo mítico. Como o romanceiro medieval, a narrativa é repleta de relatos que atestam o hibridismo entre os domínios do real e do fantástico. Discute-se aqui como arguemnto central a relação de oposição e complementaridade entre falta e excesso, padrão e variação, contingência e criação que constituem a estética do sertão