(Poema publicado no jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 nov. 1967; reproduzido, posteriormente, em PEREZ, Renard. Em Memória de João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro, José Olympio, 1968; e em edições seguintes de Sagarana).
O texto discute a relevância da abordagem semiótico-discursiva para os estudos do discurso literário e do discurso plástico. Para isso algumas obras são analisadas, tais como: "O elefante" de Carlos Drummond e Andrade, e "Uns inhos engenheiros" de João Guimarães Rosa. O aspecto mais destacado do estudo consiste na visão teórica de bricolagem como recurso fundamental para a composição do trabalho de arte. Desenvolvemos essa teoria tendo como ponto de investigação a obra Figures de Gérard Genette. Outros teóricos foram utilizados e um dos mais importantes foi Jean-Claude Coquet para as abordagens da semiótica literária.
As situações práticas de comunicação envolvem, em geral, a atuação simultânea de símbolos, índices e ícones. A semiose de um texto literário não é diferente, o que torna praticamente impossível isolarmos um texto puramente simbólico, indexical ou icônico. Podemos, todavia, identificar contextos em que um desses modos de representar sobressai aos demais, tornando-se determinante para a compreensão dos efeitos expressivos que o texto busca ressaltar. O objetivo deste artigo é descrever situações de leitura nas quais a ênfase em cada uma dessas três formas de representação determina a apreensão de sentidos específicos nos poemas e narrativas examinados. Com essa finalidade, valemo-nos do aporte teórico proveniente da Teoria Geral dos Signos, cuja base é o pensamento do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce, do qual destacamos a segunda tricotomia dos signos, centrada nas relações possíveis entre as representações e seus objetos. Os conceitos são retomados inicialmente em seu sentido teórico geral para, em seguida, serem aplicados ao contexto específico da linguagem literária, a partir de comentários sobre poemas e narrativas de autores representativos da literatura brasileira, como Manuel Bandeira, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre outros. Mais do que traçar um esquema de classificações, as leituras propostas pretendem demonstrar como a apreensão dos componentes simbólicos, indexicais e icônicos presentes nos textos examinados implicam diferentes estratégias de cognição do fenômeno literário.
O presente artigo analisa a relação entre o homem e a natureza a partir da abordagem das obras de Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa. Na poesia e na prosa desses autores, é possível perceber a preocupação com a preservação do meio ambiente, de forma militante e aguerrida em Drummond e de um modo mais simbólico e indireto em Rosa. Os recentes desastres ecológicos nas barragens da Vale em Mariana e Brumadinho trouxeram à tona questões prenunciadas em poemas como “Canto mineral” do escritor itabirano, ou em narrativas como “Uma estória de amor” do autor de Grande sertão: veredas. O tensionamento entre progresso e preservação está no cerne das discussões contemporâneas, num contexto em que nossas florestas estão ameaçadas por um projeto explorador nocivo, apoiado pelo próprio governo federal, que enfraquece órgãos de fiscalização na mesma proporção em que permite a ação de garimpeiros e pecuaristas em áreas que deveriam ser protegidas pelo Estado. O resgate dessa temática na obra dos autores mineiros lança luz sobre um assunto de extrema urgência e nos permite refletir criticamente sobre o mundo contemporâneo.
Nesse trabalho, procurar-se-á investigar o discurso da infância nas obras Boitempo e Primeiras
estórias; respectivamente no poema "Banho de bacia", de Carlos Drummond de Andrade, e no conto "As
margens da alegria", de João Guimarães Rosa. Pensar-se-á o discurso da infância, subsidiado sob as produções literárias mencionadas, sob a concepção dos mecanismos de poder que operam na civilização -refletida de acordo com conceitos da psicanálise freudiana- e também pensado consoante textos de crítica cultural.
No poema “A um bruxo, com amor”, dedicado a Machado de Assis, e em “Um chamado João”, dedicado a Guimarães Rosa, Drummond posiciona-se – poética e figurativamente – mediante a perspectiva de dois olhares diferenciados, respectivamente, sobre a criatura e o criador, ou seja, no primeiro caso, a voz lírica autoral dirige-se a um “tu” e, investida de persona visitante, adentra “certa casa da Rua Cosme Velho” e traz à tona obras e personagens machadianas; no segundo caso, a voz poética – a partir de um vasto questionamento – interroga-se sobre a veracidade da existência do criador, esse “fabulista, fabuloso, fábula” que foi João Guimarães Rosa. As duas perspectivas – que se estribam no tempo memorial para justificar abordagens poéticas diferenciadas – constituem um diálogo de celebração e homenagem a dois grandes escritores que marcaram o poeta mineiro, quer em termos de memória da escritura (no caso de Machado de Assis), quer em termos de memória literária do escritor (no caso de Guimarães Rosa).
O objetivo desta tese é contribuir com a reflexão acerca das formas de representação de grupos marginalizados na literatura brasileira, especificamente no que se refere aos indivíduos psiquicamente perturbados – referidos como loucos. Tomada como objeto social, a loucura é construída por uma rede de discursos que circulam socialmente em relação ao ser do louco e da especificidade da loucura. Se o fenômeno pode ser tratado sob diferentes perspectivas, também o discurso literário, como fonte e espaço de representações, contradições e tensões, pode expressar um saber sobre esse objeto, possibilitando uma compreensão do louco enquanto alteridade, e mesmo como uma identidade social, considerado sujeito da diferença. Partindo do estudo de obras ficcionais literárias relativamente recentes, esta tese aponta a seguinte constatação: conforme o modo de representação da personagem louca, o texto literário estaria operando uma visão emancipatória em relação a esse grupo marginalizado, ou, por outro lado, reforçaria os estereótipos e os preconceitos existentes no espaço social, ao passo que as uto-representações centram-se na linguagem e na escrita como estratégias para revelação de novas identidades sociais. Mediante uma análise estrutural da composição da personagem, examina-se o modo de representação na construção da identidade e da alteridade, apontando elementos usados nos textos que configuram identidades deterioradas pelo estigma de loucas. Este estudo contempla obras narrativas ficcionais da literatura brasileira publicadas no período compreendido entre 1951 e 2001. Enquanto as representações da alteridade são colhidas dos textos literários ―A doida‖ (1951), de Carlos Drummond de Andrade; ―Sorôco, sua mãe, sua filha‖ (1962), de Guimarães Rosa; ―As voltas do filho pródigo‖ (1970), de Autran Dourado; Armadilha para Lamartine (1976), de Carlos Sussekind; O exército de um homem só, (1973), de Moacyr Scliar; e O grande mentecapto (1979), de Fernando Sabino; as auto-representações são obtidas das obras Hospício é Deus (1965), de Maura Lopes Cançado, e Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), de Stela do Patrocínio. Para fundamentar teoricamente a discussão sobre o problema, toma-se como base a teoria da narrativa, com uma abordagem em que se cruzam pressupostos das teorias da identidade e da Teoria das Representações Sociais com o pensamento filosófico de Michel Foucault. No desenvolvimento da análise, considera-se ainda a contribuição das pesquisas da antropologia social, de Erving Goffman, em diálogo com a visão política dos estudos culturais, além de textos de antipsiquiatras, como Thomas Szasz e David Cooper, que debatem o estatuto da loucura no mundo contemporâneo.