Este texto analisa, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da semiótica tensiva, o conto “Pirlimpsiquice”, de João Guimarães Rosa, com o objetivo de verificar o modo como o conceito de acontecimento, estabelecido por Claude Zilberberg, manifesta-se no texto tanto no nível da enunciação quanto no nível do enunciado. Nosso objetivo é observar o modo como se dá fusão do uno e do múltiplo no texto por meio da análise da forma como o narrador, no presente, rememora um acontecimento passado vivenciado por ele quando ainda menino juntamente com seus colegas de internato. Nessa história, o menino e seus colegas, após deslizar para o imaginário, para a fantasia, acontecimento que se dá com a encenação de uma peça no colégio interno, retorna para a sua rotina. Tal trama do texto enunciado constitui-se, por sua vez, como um outro acontecimento, o acontecimento mitopoético que é o próprio conto, relatado no presente da enunciação pelo narrador.
Este artigo tem por objetivo discutir determinadas alterações empreendidas em cenas de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, no processo de adaptação dessa obra para o texto fílmico Outras estórias, de Pedro Bial. Para tanto, discute-se a natureza da mudança de suporte, na esteira dos estudos de base greimasiana, observando certas construções de sentido que se recriam nesse processo de transcodificação. Utiliza-se, desse modo, a noção de adaptação enquanto forma de tradução/transcodificação, isto é, uma interpretação que se realiza como enunciado segundo que deve manter certa equivalência em relação ao enunciado primeiro. O texto aponta também para as noções de recursividade e desdobramento, formas de uma tipologia textual que podem dar conta das alterações da expressão na passagem do texto verbal rosiano ao audiovisual de Pedro Bial. Por fim, pretende-se ainda apontar certos encadeamentos figurativos e temáticos que se organizam nos dois textos e que permitem a percepção da supressão do estado de aparente loucura de Liojorge no filme, o qual é enunciado no texto verbal, e, por sua vez, a reiteração do estado de coragem do ator, já presente no texto rosiano, em cenas do texto fílmico.