Este artigo tem por objetivo discutir determinadas alterações empreendidas em cenas de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, no processo de adaptação dessa obra para o texto fílmico Outras estórias, de Pedro Bial. Para tanto, discute-se a natureza da mudança de suporte, na esteira dos estudos de base greimasiana, observando certas construções de sentido que se recriam nesse processo de transcodificação. Utiliza-se, desse modo, a noção de adaptação enquanto forma de tradução/transcodificação, isto é, uma interpretação que se realiza como enunciado segundo que deve manter certa equivalência em relação ao enunciado primeiro. O texto aponta também para as noções de recursividade e desdobramento, formas de uma tipologia textual que podem dar conta das alterações da expressão na passagem do texto verbal rosiano ao audiovisual de Pedro Bial. Por fim, pretende-se ainda apontar certos encadeamentos figurativos e temáticos que se organizam nos dois textos e que permitem a percepção da supressão do estado de aparente loucura de Liojorge no filme, o qual é enunciado no texto verbal, e, por sua vez, a reiteração do estado de coragem do ator, já presente no texto rosiano, em cenas do texto fílmico.
Este trabalho analisa o conto “Duelo”, de João Guimarães Rosa, e utiliza como referencial teórico a Semiótica Francesa com base nos estudos de A.J. Greimas e J. Courtés (s/d) em seu Dicionário de Semiótica, de Denis Bertrand (2003), em Caminhos da Semiótica Literária, e de Patrizia Lombardo (2005), que, no Dictionnaire des Passions Littéraires, dedica um verbete ao estudo da vingança. O objetivo é descrever a construção da significação do conto, focalizando aspectos de sua dimensão pragmática, figurativa, passional e enunciativa. Descrevemos as transformações de estado por que passam os atores e, em seu percurso passional, os seus estados de alma, observando as paixões que os movem. Nesse sentido, observamos que a paixão vingança se manifesta no conto, criando efeitos de sentido diversos.
“A terceira margem do rio”, conto de João Guimarães Rosa, é objeto de análise deste trabalho, que se utiliza do referencial teórico da semiótica francesa que, desde os anos 1980, constrói uma semântica da dimensão passional dos discursos e passa a considerar a paixão “como efeito de sentido inscrito e codificado na linguagem”. Nosso texto focaliza os estados de alma do sujeito da história, que, projetado no presente da enunciação, ao rememorar o passado, já entrado em anos, toma consciência da
anulação de sua existência, que foi marcada pela ausência do pai. Focalizamos o percurso patêmico do “eu” narrador, como sujeito do enunciado, em cenas enunciativas do texto nas quais se manifestam variantes da paixão da cólera, tendo em vista o modo como Jacques Fontanille (2005) a descreve em Dictionnaire de passsions Littéraires. Nossa hipótese é que o eu não teve consciencia da raiva e da
revolta que sentiu em relação ao distanciamento do pai e, nesse sentido, observamos como essa revolta,