Este ensaio se propõe a analisar, em dois contos de Tutaméia ( 1967), "Palhaço da boca verde" e " Sinhá Secada", como os corpos dos personagens adoecidos são narrados e como esses corpos revelam a dor da alma. Para Rosa, há um sentido para a dor, que instalada no corpo, conduz a alma a algum tipo de aprendizagem. Conforme Barrento (2006), o mundo moderno tem evitado a dor a todo custo, esquecendo-se do valor humano nela contido. Os personagens dos contos em estudo não conhecerão o alívio de suas dores, mas atravessam um percurso de aprendizagem que tem como desfecho uma espécie de cura. O conceito da dor será discutido conforme Shopenhauer e outros filósofos, bem como a abordagem de Rosa, médico que deixou de clinicar para se dedicar a uma outra maneira de sondar o ser humano. A morte e a depressão estão presentes nos dois contos,porém, sob o olhar sensível e peculiar do autor mineiro.
Em A Poética do espaço, Bachelard (1989) concebe o espaço da casa como um “estado de alma”, espaço que “fala de uma intimidade”. Sob a ótica bachelardiana, a casa constitui o sujeito, fixa sua memória e suas raízes. Roberto da Matta (1987) em seu livro A casa e a rua afirma que a casa é o espaço da família, da ordem e do conforto, em oposição à rua que representa o lugar público da desordem, do perigo e do anonimato. É, pois, seguindo esta linha de raciocínio que este trabalho – recorte de um estudo maior - se propõe a analisar aspectos do espaço e da identidade no conto “Faraó e a água do rio”, integrante de Tutaméia: terceiras estórias (1967), obra de João Guimarães Rosa. Trata-se de um enfoque teórico-crítico da narrativa rosiana, tendo como propósito identificar, na arquitetura ficcional, o imaginário circunscrito na lei da ordem familiar, representada na imagem dos fazendeiros da Fazenda Crispins, com suas tachas de cem anos de eternidade - um mundo de identidade marcada pelos esp
O objetivo é propor uma leitura comparada entre os contos “Bicho mau”, de Guimarães Rosa, “O menino que escrevia versos”, de Mia Couto, e “Jocasta”, de Teixeira de Sousa, na tentativa de entender a correlação entre a figura do médico e das enfermidades que aparecem nas tramas e a representação tipológica dos espaços. Conjectura-se que os elementos científicos e míticos presentes nestes contos permitem uma apreensão diferente do espaço: este não seria visto de modo binário, mas de modo integral. Assim, não apenas se coadunam elementos denominados interiores e exteriores, abertos e fechados, rurais e urbanos, mas torna-se possível vislumbrar o não-visível, o imaterial no interior do próprio signo linguístico ou, ainda, nas pequenas variações que advêm da percepção (José Gil, 2005). Na análise comparada, o mundo que se sustenta pela “imaginação explicativa” e o outro, pela “imaginação poética” (cf. Antonio Candido) não apenas geram tensão, mas permitem alcançar outro entendimento ou outra