A proposta deste trabalho é analisar o tema da viagem no livro Primeiras estórias (1972) de Guimarães Rosa, mais especificamente, nos contos “Pirlimpsiquice”, “Partida do audaz navegante” e “Nenhum, nenhuma”. As versões da peça em "Pirlimpsiquice", bem como as novas modificações da personagem Brejeirinha para a história do audaz navegante, fazem parte da viagem ao mundo da invenção e da liberdade de criação. Em “Nenhum, nenhuma”, o enigma dessa viagem consiste em não se poder precisar se o espaço descrito corresponde a um local visitado pelo Menino ou a visões de um sonho do narrador adulto que tenta unir fios do passado e emoldurar a essência do tempo. O imaginário da criança é descortinado ao criar histórias e a viagem torna-se o adentramento nesse universo infantil. As reflexões estão apoiadas em estudos do narrador e mantêm diálogos com ensaios críticos sobre a obra de Guimarães Rosa.
Ir e vir é um direito assegurado a todo cidadão. Deslocar-se é próprio da espécie animal; escolher caminhos, traçar uma via para viajar, é característica humana. O artigo pretende identificar, no itinerário de personagens do livro Tutaméia Terceiras Estórias, os motivos que os impulsionam para viajar, bem como observar o traçado espacial desse itinerário. Ocorre que entre esses personagens a viagem torna-se diversa em sua configuração, à medida que não são apenas viagens por estradas reais, por terra e por rio, por meio de montaria ou de barco. O tema da viagem em Tutaméia configura-se também pela metáfora do olhar para frente e para trás, o que se reverte na ação do próprio leitor na travessia de ir e vir, direito e dever assegurados por um narrador. Propõe-se uma análise intratextual da obra rosiana, para interpretar enigmas que se imbricam entre personagens de contos diferentes, na representação metafórica da viagem.