O seguinte artigo tem como objetivo analisar o romance de Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, através de um sertão ontológico. Em um primeiro momento, esse sertão é dividido por dualidades que atingem o ser tanto nas questões mais pontuais do romance – Os Gerais e a Bahia; os bandos de Joca Ramiro e do Hermógenes –, quanto nas mais complexas – bem e mal; luz e trevas; deus e o diabo. Conforme a narrativa vai se desenvolvendo, essas questões dialéticas, simbolizadas pelas margens do rio São Francisco, são vencidas, deflagrando um processo chamado Ritmanálise. Esse movimento tem constante relação com o termo travessia, a chave do romance para a compreensão da obra, e palavra reveladora do sertão ontológico, interior de Riobaldo, o ser-tão.
A ideia de que há um percurso do olhar ao desejo na relação entre Riobaldo e Diadorim, personagens de Grande Sertão: Veredas, é o que movimenta esse trabalho: através das teorias de Jacques Lacan, Sigmund Freud e Maurice Merleau-Ponty sobre o olhar e o desejo pode-se examinar esse percurso e determinar a influência que cada elemento exerceu no outro e a influência que esse conjunto, em sua totalidade, exerceu no romance de João Guimarães Rosa.
Este artigo estabelece um cotejo entre o episódio do julgamento de Zé Bebelo (da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa) com o evento do julgamento de Sócrates tal como chegou até nós pelos discípulos Platão e Xenofonte. Discutem-se as semelhanças entre os julgamentos e põe-se em evidência a reflexão política e filosófica que está em jogo em ambas as situações, especialmente nos desenlaces distintos que apresentam. Foram utilizados comentários e informações de I.F.Stone em seu livro O julgamento de Sócrates.