As Primeiras estórias como atos genesíacos primordiais. O princípio do uno e do múltiplo
regendo a proliferação das estórias. Os quatro pilares fundamentais que sustentam a estrutura arquitetônica do livro: a catábase, o personagente, o psiquiartista e a alegria. O entrelaçamento destas noções e o seu desdobramento nas estórias. A estória medial – “O espelho” – e as duas estórias extremas – “As margens da alegria” e “Os cimos” – como o princípio ativo do livro a partir do qual as outras dezoito estórias seguem-se umas às outras num percurso progressivo de desvelamento e engrandecimento do homem. A seqüência das estórias e a sua orquestração conjunta na composição de um enredo harmônico. As correlações internas entre as estórias. O destino ascensional da alma e os ecos plotinianos na obra
rosiana.
O objetivo deste artigo é estudar Riobaldo, narrador e protagonista de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, entendido como o protótipo do herói problemático. A análise está fundamentada no pensamento de Georg Lukács exposto em seu livro A teoria do romance, no qual estabelece um contraste entre herói da epopéia e herói problemático. A interpretação do romance busca identificar, além de traços que nos permitem caracterizar Riobaldo como herói problemático – afirmação da subjetividade, heterogeneidade do mundo, solidão e angústias – elementos que funcionam como resquícios do tempo da epopéia. São abordados o sentido da narrativa bem como as implicações de sua natureza autobiográfica e os conflitos de Riobaldo, com especial destaque para o problema do pacto com o demônio, em que suas principais dúvidas afloram.
O trabalho procura especificar o campo de problemas, objetivos, metodologia e corpus de uma tese de doutorado sobre a crítica literária brasileira acerca do Grande sertão: veredas. Observando elisões e continuidades no encaminhamento do debate a respeito do romance, na passagem de uma geração de críticos a outra, pretende-se discutir certas peculiaridades da prática crítica recente no Brasil e distinguir questões de longo alcance sobre o livro de Guimarães Rosa que permaneçam em aberto. Em síntese, o escopo da pesquisa consiste na análise crítica de uma seleção de interpretações do Grande sertão: veredas – aquelas que, seja diretamente, seja pela negativa, seja subliminarmente, apontam para correlações de ordem formal entre a obra literária e a experiência social brasileira.
Corpo de Baile” de João Guimarães Rosa apresenta efeitos sinfônicos, percebidos nas diversas vozes que se entrecruzam e nos diferentes tipos de sons descritos. A narrativa acontece em concomitância com a poesia que canta os movimentos da natureza em seu devir. Sua prosa tem fortes raízes não só na música trabalhada pelos poetas e cantadores do sertão como também na emanação melódica da natureza. O mundo de Rosa se faz mundo em grande escala através de sua manifestação sonora. Sua escrita, porém, não permanece atada apenas ao relato e à preservação intencional do verbo ancestral. O escritor presta homenagem à fecundidade do mundo auditivo, fonte da memória e residência de toda tradição oral. Onde coisas e casos – as estórias que correm os gerais - se manifestam e os silêncios habitam.