Tudo é e não é . Analisar algumas imagens ambíguas de Deus em Grande Sertão: Veredas foi o objetivo desta dissertação. Para tanto, essa análise é uma tentativa interdisciplinar de leitura e interpretação, em que Teologia e Literatura são interlocutoras. A partir do romance rosiano, sob à luz hermenêutica da crítica literária e da reflexão teológica, tentamos indicar que a escritura de João Guimarães Rosa apresenta Deus de modo ambíguo. Essa assertiva é possível, pois se percebeu na provisoriedade humana, poetizada pelo escritor e personificada por Riobaldo, o traço sine qua non do modo de ver mundos misturados . Ao rememorar e renarrar as estórias sua vida, Riobaldo abre espaço ao Mistério. Nonada . Em cada travessia, o protagonista-narrador reflete acerca de Deus , por meio da fala poética cujas imagens diversas sugerem um Deus muito contrariado . Sem enquadramentos teológicos e/ou filosóficos definitivos, Rosa provoca-nos ao mostrar-nos que o Deus que roda tudo revela-se e evade-se no sertão-universo. Lugar físico-mítico. É no sertão que intentamos seguir os rastros de Deus segundo a íris riobaldiana. Olhar de constante movimento entre o obscuro e o revelado, entre o é e não é.(AU)
O objetivo deste trabalho foi o de apresentar a importância e a possibilidade do diálogo entre teologia e literatura. Tomando como tema a liberdade e o sofrimento foi feito, nesta dissertação, uma tentativa de aproximação temática entre o universo ficcional-literário de Guimarães Rosa, na personagem Riobaldo do 'Grande Sertão: Veredas', e a teologia de Juan Luis Segundo, que tem como proposta a aproximação da teologia com aquilo que se propõe ser a realidade vivida, uma teologia com sabor de vida. Riobaldo, personagem-narrador do romance, entendido a partir da verossimilhança, é o ponto de partida para o diálogo. Ele, contando sua história de vida, narra ao senhor doutor, seu interlocutor, figura que personifica o leitor, a sua dor existencial, um sofrimento que não encontra, na sua reflexão, uma resposta que seja, no mínimo, condizente. Conclui, nessa sua travessia, que a vida, que é vivida a partir da liberdade é um negócio, sempre, muito perigoso. O texto, a partir disso, procurando respeitar, em seus próprios universos, os espaços da literatura e da teologia, aproximou em diálogo o grito existencial dado por Riobaldo diante da dor humana e a teologia de Juan Luis Segundo, que entende a dor como conseqüência da existência a partir de uma criação evolucionista executada e conduzida por um Deus que, antes de tudo, desejou criar um ser que fosse, como Ele, um ser livre". Nas p.81-84 sob o título "Uma meia teologia" o autor traz a interpretação que Juan Luis Segundo faz do livro de Jó e nas p.106 a 111 o autor aborda "O desenvolvimento da liberdade na Bíblia" e diz o seguinte: "Juan Luis Segundo chama de aventura aquilo que chamo de desenvolvimento da liberdade no texto bíblico. Para ele, esse desenvolvimento, ou aventura, numa hermenêutica própria, dá-se no próprio desenvolvimento do pensamento sobre a liberdade no texto bíblico, que é fruto da gradativa mudança da visão sobre Deus que acontece na revelação divina ao homem.
A presente tese, de título: Religião e Sertão, é uma tentativa de ler, a partir do viés do diálogo entre religião, teologia e literatura, e do método da correspondência de Antonio Carlos de Melo Magalhães, a obra do literato mineiro João Guimarães Rosa. Para tanto, a tese segue por meio de três grandes correspondências encontradas não só na obra rosiana como também, de forma comum e constante, em quase todas as pesquisas que seguem a interface teologia e literatura: palavra, vida e sagrado. Vida como processo de existência – a travessia do homem humana, palavra como meio de manifestação dessa existência e sagrado como forma de explicação para essa existência. Desse modo, os quatro capítulos da tese seguem essas correspondências: o primeiro, com uma discussão sobre o próprio diálogo: religião, teologia e literatura, seguido dos outros três, como veredas de leitura: vida, palavra e sagrado.(AU)