Este artigo discute a representaçãodo sagrado e do profano, no conto ‘’A hora e a vez de Augusto Matraga’’, de Guimarães Rosa. Através da figura do jagunço e do sertanejo, o escritor rompe com a dicotomia entre o bem e o mal tal como aventada pelo cristianismo ortodoxo e propõe uma espécie de confluência entre esses dois extremos de forma que o bem é visto como imbricado no mal e o mal imbricado no bem. Defenderemos que todo o conto é constituído baseado nesse pressuposto, cujo ápice se dá quando o herói imoral assume ares messiânicos, momento este que se configura como uma ironia de Rosa, em uma relação de intertextualidade com o texto bíblico.
A proposta inicial deste trabalho era mapear e analisar as superstições presentes ao longo do romance 'Grande Sertão: Veredas' de João Guimarães Rosa. Porém, no decorrer da pesquisa, o tema superstição se mistura com religião e cultura popular de tal forma que se torna difícil separá-los. Assim, contemplaremos a inter-relação entre os três temas, que resulta na base para a construção do romance, e principalmente na influência que isso terá sobre as reflexões acerca da própria existência feitas pelo narrador, Riobaldo.
O presente trabalho busca identificar os fragmentos do religioso presente na Obra Grande Sertão: Veredas. Um religioso que faz parte do cotidiano de seus personagens de forma singular, não estruturada, ambígua, clara e obscura. Portanto, a análise não se detém na história de amor triangular entre Riobaldo-Diadorim-Otacília nem em reflexões sobre a vida, a travessia, o sertão. Busca, em vez, extrair de um contexto mais amplo o que tem relação com o religioso, porém intimamente vinculado às questões existenciais e morais.
Estudo do conto "A hora e a vez de Augusto Matraga", considerando estrutura narrativa e personagem, reconhecíveis como embrião da totalidade da obra do autor. Identifica três etapas definitivas na ação do protagonista: busca de auto-afirmação; ressurreição e reencontro com a natureza e consigo mesmo; paz e plenitude compensatórias, que levam ao reconhecimento do espírito religioso ou misticismo bronco como uma das vertentes mais ricas em Guimarães Rosa.
No conto de Guimarães Rosa, “A terceira margem do rio”, encontramos a história de um homem que decide viver seus dias numa canoa de pau. Seu filho, numa mistura absorta de encantamento e confusão, o acompanhará, mesmo que de longe, até o momento em que, à beira do rio presencia a passagem do pai à terceira margem, a margem do não-óbvio, do não-dado, a margem que transcende o cotidiano e o rotineiro. O presente trabalho busca fazer uma leitura comparativa entre o conto rosiano e as teorias antropológicas acerca dos ritos de iniciação. Van Gennep serve de base teórica para nossa leitura que entende a literatura como instrumento capaz de retratar os momentos limites da existência humana. O conto fala de uma iniciação pela qual passa todo aquele que busca viver sua vida para além do cotidiano, muitas vezes assumindo características religiosas, perpassando assim por questões tratadas pela religião e pela antropologia e vivenciadas também pela literatura.
Tudo é e não é . Analisar algumas imagens ambíguas de Deus em Grande Sertão: Veredas foi o objetivo desta dissertação. Para tanto, essa análise é uma tentativa interdisciplinar de leitura e interpretação, em que Teologia e Literatura são interlocutoras. A partir do romance rosiano, sob à luz hermenêutica da crítica literária e da reflexão teológica, tentamos indicar que a escritura de João Guimarães Rosa apresenta Deus de modo ambíguo. Essa assertiva é possível, pois se percebeu na provisoriedade humana, poetizada pelo escritor e personificada por Riobaldo, o traço sine qua non do modo de ver mundos misturados . Ao rememorar e renarrar as estórias sua vida, Riobaldo abre espaço ao Mistério. Nonada . Em cada travessia, o protagonista-narrador reflete acerca de Deus , por meio da fala poética cujas imagens diversas sugerem um Deus muito contrariado . Sem enquadramentos teológicos e/ou filosóficos definitivos, Rosa provoca-nos ao mostrar-nos que o Deus que roda tudo revela-se e evade-se no sertão-universo. Lugar físico-mítico. É no sertão que intentamos seguir os rastros de Deus segundo a íris riobaldiana. Olhar de constante movimento entre o obscuro e o revelado, entre o é e não é.(AU)