A partir do estudo de narrativas do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, buscou-se identificar, catalogar e descrever alguns elementos que recorressem em seu discurso literário. Foram realizadas leituras acerca de parte considerável da obra do autor, das quais se originaram as asserções, deduções e relações verificadas neste trabalho. Ao analisar os enunciados rosianos, priorizou-se evidenciar cinco temas discursivos essenciais pertinentes em seu discurso, os quais foram divididos e organizados em cinco eixos temáticos: amor, noite, religiosidade, povo e natureza . Os autores escolhidos como suporte analítico para abordar o amor foram os filósofos gregos Platão e Aristóteles, os pensadores Erich Fromm, Benedito Nunes, Arthur Schopenhauer, André Comte-Sponville Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, o sociólogo Zygmunt Bauman e o semioticista Algirdas Greimas. Os autores requeridos como suporte analítico para tratar a religiosidade foram o filósofo Santo Agostinho, a ensaísta Elisa Guimarães e dois especialistas em iconografia, Jacopo de Varazze e Nilza Botelho Megale. Os autores adotados como suporte analítico para esmiuçar a noite foram o folclorista Luís da Câmara Cascudo, o demonologista Eliphas Lévi e o crítico literário Massaud Moisés. Os autores elencados como suporte analítico para subsidiar o eixo sobre o discurso do povo foram o sócio-linguista Dino Preti, o sociólogo Roger Bastide, o filósofo Jean-Jacques Rousseau, o pensador Antonio Candido, o antropólogo Claude Lévi-Strauss e, novamente, o folclorista Luís da Câmara Cascudo. Os autores utilizados como suporte analítico para abarcar a natureza foram os filósofos Heráclito de Éfeso e Empédocles de Agrigento e os pensadores Humberto Maturana, Francisco Varela, Fritjof Capra e Gaston Bachelard.
O objetivo da pesquisa Meninos eu li!: leitores de Sagarana escrevem a Guimarães Rosa, cujo corpus são oitenta e cinco cartas sobre a recepção do livro de estreia do escritor, Sagarana, publicado em abril de 1946, e arquivadas no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, é discutir a leitura desses primeiros leitores na contra-luz das críticas recebidas pelo livro. Para tanto, procedeu-se aos seguintes passos: 1)- Identificação dos principais tópicos de cada carta. 2)- Identificação dos paradigmas de leitura – autores, obras, elementos de crítica literária – mencionados pelos missivistas. 3)- Discussão das críticas recebidas pelo livro a fim de mensurar seu peso como horizonte da comunidade de leitores constituída pelos missivistas. Num segundo momento recortou-se a correspondência pelo viés identitário distribuindo-a da seguinte maneira: remetentes desconhecidos e remetentes mulheres, com objetivo de identificar semelhanças e diferenças no modo de ler de diferentes leitores. Com pressupostos teóricos da Estética da Recepção, da História da Leitura e do Discurso Epistolar, a pesquisa chegou às seguintes conclusões: 1- a importância da crítica literária como mediadora da leitura; 2- a legitimação da identidade brasileira através da literatura; 3- a forte presença de escritores pré-modernistas como paradigmas de leitura tanto da crítica quanto dos missivistas; 4- o crescimento e amadurecimento do mercado cultural brasileiro; 5- a importância nesse mercado tanto do Estado quanto das práticas informais; 6 - o longo tempo de maturação e concretização de projetos, anunciados nas cartas, de expansão da circulação de Sagarana.