Esta dissertação se ocupa em analisar o dito pacto diabólico, bem como os pactos
entre as personagens, no romance Grande Sertão: Veredas (1956), de João
Guimarães Rosa. A pesquisa é empreendida com aporte nas contribuições e
discussões dos estudos de Agamben, Seligman-Silva, Suzi Sperber, Utéza e
Albergaria. A obra aqui estudada se configura como uma abertura ao múltiplo,
compreendendo elementos que fazem as noções de pactos remeterem a visões de
religiosidades, ocultismos e a vínculos entre os personagens cujas existências são
marcadas pelas incertezas de viver no sertão, contratos os quais se fazem e se
revelam na teia narrativa. A discussão é feita a partir da conjectura de que é menos
relevante responder se o instante do pacto nesta obra de Rosa efetivamente ocorreu
e mais plausível de ser interpretado como reflexão em torno da condição humana,
isto é, das vontades inerentes ao ser e do emaranhar das relações interpessoais. A
hipótese, então, é que à medida que o romance é analisado, ressalta-se que o pacto
de vida por Diadorim, o pacto de confissão com o narratário e os pactos de respeito
e lealdade com mestres jagunços na obra de Rosa são reverberações do pacto
diabólico, que tem tons tão peculiares na sua inventividade literária.
Este trabalho parte da compreensão de que a obra literária se estabelece como prática cultural e que se constitui incorporando estratos textuais e discursivos das mais variadas procedências, captados do ambiente sociocultural, engendrando um complexo tecido. Analisamos a obra A terceira margem do rio de João Guimarães Rosa, cotejando a filosofia existencial em Jean Paul Sartre. Focamos nosso olhar sobre as personagens principais, Nosso pai , Nossa mãe e o filho na perspectiva de identificar como se constituem em representações densas, complexas e profundas do ser humano em face da liberdade. A poética rosiana em A terceira margem do rio se desenvolve numa trama familiar narrada pela personagem o filho que registra os acontecimentos imaginados e observados por ele. No primeiro capítulo da dissertação embarcamos na canoa rosiana em busca de identificar a fortuna crítica da obra em analise. No segundo capítulo tratamos das poéticas de decisão da existência verificadas em Nosso pai , Nossa mãe e no filho e como constroem suas escolhas e decisões de Ser em face da liberdade. No terceiro capítulo tratamos em analisar o fenômeno religioso a partir de seus usos e dimensões, enquanto liberdade, contemplação e controle delineando o existir das personagens. Por fim, apontamos possibilidades de existência evidenciadas nas escolhas e decisões das personagens na permanente busca de se construírem a partir do si mesmo, instaurando dimensões aberta para a criação de novos e significativos mundos.
Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade - PPGLI
Este trabalho, embasado pelos crescentes estudos das interfaces entre literatura e sagrado, analisa a narrativa “São Marcos”, de João Guimarães Rosa, na perspectiva de rastrear em sua composição a presença de gestos humanos e elementos configuradores das experiências numênicas, determinantes na composição do convívio do homem com a sacralidade. Publicada em Sagarana (2001), a mencionada narrativa, através de um discurso predominantemente composto em primeira pessoa, coloca em questão as metamorfoses do olhar humano desencadeadas pelas experiências místicas que o narrador-personagem vivencia em diferentes momentos de sua trajetória. Sua análise permitiu a apreciação de posicionamentos adotados pelo homem em sua insuperável busca por transcendência, propiciando reflexões sobre os cruzamentos e rejuntes que perfazem as experiências religiosas contemporâneas.