Este artigo tem como objetivo fazer uma análise dos contos "William Wilson", de Edgar Allan Poe, e "O espelho", de João Guimarães Rosa, histórias que tratam do intrigante tema da duplicidade humana. O método utilizado para o trabalho baseia-se numa comparação entre os contos, buscando sempre uma reflexão sobre a inegável presença de um “duplo” no personagem narrador, de tal forma que se estabeleça um franco diálogo entre os contos, fixando-se não apenas nos elementos comuns, mas, também, nas suas diferenças. O material utilizado consiste nos contos em questão, textos a respeito do estilo dos dois escritores e no artigo psicanalítico “O estranho”, de Freud. O estudo demonstra como o tema do “duplo” pôde ser explorado de forma original por ambos os escritores, expondo sua genialidade no tema tratado.
Durante a década de 70, Silviano Santiago, vivendo nos Estados Unidos, antecipa as novas tendências literárias com o ensaio “O entre-lugar do discurso latino-americano” (SANTIAGO, 2000), no qual, estabelece uma relação antropofágica que transforma um leitor, devorador de livros, em escritor. Entretanto, o que se pretende aclarar, através deste artigo, é a extraordinária capacidade de Guimarães Rosa em “prever” tais tendências, pois, escrevendo “Grande sertão: veredas”, quase quinze anos antes do livro de Silviano Santiago, consegue situá-lo em um patamar literário até então desconhecido para a literatura brasileira e, porque não, latino-americana.
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