A relação entre criador e receptor se faz presente de forma peculiar em grande parte das obras de João Guimarães Rosa, inserida também intratextualmente em suas estórias. Para destacar tal relação, serão analisadas três novelas de Corpo de Baile: "Campo Geral", "Cara-de-Bronze" e "Dão-lalalão". Embora haja contadores ao longo de todo o ciclo novelístico, o corpus escolhido apresenta mais acentuadamente protagonistas que narram para os outros e, de certa forma, para si mesmos. Miguilim narra principalmente estórias infantis; Grivo reconta a trajetória pessoal de Cara-de-Bronze, modificando a versão inventada e vivida pelo fazendeiro, e, por fim, Soropita repassa questões pessoais por meio de devaneios. As estórias internas provocam um efeito sobre seus ouvintes, agindo ora como aprendizado, ora como impulso para buscas ou para ações distintas. A partir daí, este trabalho tem por objetivo tanto delimitar os criadores e receptores dessas estórias, refletindo acerca de seus papéis, quanto evidenciar as funções e conseqüências de tais narrativas para suas personagens, mostrando que os contadores internos auxiliam, com experiências ficcionais, não só a própria "vivência", mas também a de seus ouvintes.
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