Este artigo se propõe a sustentar a hipótese de que um grande personagem da literatura brasileira – a saber: Cara-de-Bronze, de Guimarães Rosa – é construído com notas do que as variegadas culturas têm atribuído ao Absoluto, à Divindade. Isto não implica que tal personagem seja a encarnação do divino na ficção, mas que possui traços, perfeições que encontramos na caracterização do Absoluto. Por exemplo: onisciência, onipotência, ser incriado, unidade na multiplicidade, etc. Dessa forma, cabe a nós estabelecermos esta relação e demonstrá-la mediante argumentações suficientes.
Analisa-se em que medida a autorreferencialidade e o lúdico, recursos consagrados de modo particular pelas vanguardas modernas, são articulados na produção de Oswald de Andrade, e como os mesmos se constituem elementos a ser redinamizados posteriormente na literatura brasileira, como nos casos de Guimarães Rosa e de Clarice Lispector.
Este trabalho propõe uma leitura da obra de Guimarães Rosa de Corpo de Baile (1956) até Estas Estórias (1969), construída sobre a articulação entre duas dimensões, o livro e a narração. Interroga-se o modo como estes textos colocam em relação, na tensão entre escrita e oralidade que está na sua base, a representação do acto narrativo e a reflexão sobre a construção do livro em função de um questionamento da forma e da legibilidade. Descreve-se a resposta que a organização dos livros de Rosa oferece a problemas de representação e referência, através de uma atenção ao paratexto e à edição, e discute-se a releitura e a parábase como figuras da problematização da leitura.
Análise das transposições realizadas, para o vídeo e para o cinema, do conto "Famigerado", de Guimarães Rosa, além da análise da narrativa "Cara-de-Bronze" enquanto texto transemiótico. Para este estudo foram utilizados, sobretudo, os conceitos de transcriação, de Haroldo de Campos, e de transtexutalidade, de Gerard Genette. Também foi feito um lavantamento das transposições realizadas a partir da obra rosiana para o sistema de signos audiovisual um estudo comparativo das linguagens cinematográfica, vídeográfica e televisiva, entre si, e com a linguagem verbal.
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
“Cara-de-Bronze” é uma das narrativas mais experimentais de João Guimarães Rosa por apresentar uma arquitetura textual construída sobre variadas camadas discursivas que movimentam substratos culturais implícitos e explícitos, relacionados tanto à cultura ocidental, como, por exemplo, o medievalismo e a tradição literária da novela de cavalaria, quanto à cultura oriental, como os upanixades indianos citados em forma de nota de rodapé. Seu caráter multifacetado é tal que ainda é passível de problematização a inscrição dessa narrativa em um gênero (ou forma narrativa) definido, pois nela há rastros dos três grandes gêneros – o Lírico, o Épico (narrativo) e o Dramático – e, ainda, dentro de cada um , outras pistas que levam à percepção de variadas formas, tanto do poema, da cantiga e do cantar de gesta, quanto da epopéia, do conto e da novela; e mais ainda, do teatro e do cinema. Essa implosão de fronteiras discursivas revela a dualidade essencial da obra, sua fundação alicerçada em dois suportes: um arcaico e outro moderno, percebidos na tradição literária e na experimentação formal. O intuito, portanto, é verificar o modo como a sobreposição de planos culturais e de enredo, assim como a transposição de gêneros e de códigos artísticos mobilizam metalinguisticamente tais.
A relação entre criador e receptor se faz presente de forma peculiar em grande parte das obras de João Guimarães Rosa, inserida também intratextualmente em suas estórias. Para destacar tal relação, serão analisadas três novelas de Corpo de Baile: "Campo Geral", "Cara-de-Bronze" e "Dão-lalalão". Embora haja contadores ao longo de todo o ciclo novelístico, o corpus escolhido apresenta mais acentuadamente protagonistas que narram para os outros e, de certa forma, para si mesmos. Miguilim narra principalmente estórias infantis; Grivo reconta a trajetória pessoal de Cara-de-Bronze, modificando a versão inventada e vivida pelo fazendeiro, e, por fim, Soropita repassa questões pessoais por meio de devaneios. As estórias internas provocam um efeito sobre seus ouvintes, agindo ora como aprendizado, ora como impulso para buscas ou para ações distintas. A partir daí, este trabalho tem por objetivo tanto delimitar os criadores e receptores dessas estórias, refletindo acerca de seus papéis, quanto evidenciar as funções e conseqüências de tais narrativas para suas personagens, mostrando que os contadores internos auxiliam, com experiências ficcionais, não só a própria "vivência", mas também a de seus ouvintes.
No final do século XVIII, com a consciência do relativismo cultural, a teoria da tradução começa a tomar rumos diferentes dos da tradição francesa que pensava a tradução como belle infidèle. Caminhando ao lado de uma filosofia da linguagem que vê o mundo como um texto a ser decifrado, uma nova concepção de tradução desenvolve-se. Assim, além de traduzir de uma língua para outra, o próprio mundo deveria ser traduzido e a tradução passa a ter o sentido de conhecimento. Márcio Seligmann-Silva sugere que ao invés de pensarmos no tradutor como “traidor”, devemos tomá-lo por “introdutor”, um leitor privilegiado que quer transmitir a sua Erfahrung (experiência) com o texto. Neste artigo, pretende-se discorrer sobre a concepção de tradução como transmissão de experiência. Para tanto, tecemos aproximações entre a tarefa do tradutor e a do narrador, no sentido de que Walter Benjamin desenvolve em suas teses. Em um primeiro momento, tomamos como suporte a leitura da novela "Cara de Bronze", de João Guimarães Rosa, uma vez que identificamos na trajetória do personagem Grivo um emblema do narrador e do tradutor benjaminiano. Em seguida, ampliamos a discussão em torno da tradução e convocamos para dialogar com a filosofia de Benjamin, autores como Haroldo de Campos e Vilém Flusser.
O artigo reflete mais diretamente sobre duas das sete narrativas de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa (1956). Com o desdobramento em 3 outros livros que se dá na 3ª edição (1964/65), “O recado do morro” e “Cara-de-Bronze” passam a integrar o “Livro 2” da obra: “No Urubuquàquà, No Pinhém”, também formado pela novela “A Estória de Lélio e Lina”. A proposta coloca em diálogo as mudanças editoriais do livro no tempo, atestadas nas correspondências do escritor, com os enredos e temas das duas narrativas, apontando e analisando um movimento de escrita que ao mesmo tempo é artística e histórica. Nessa perspectiva, concebe-se o sentido histórico delineado em uma composição literária elaborada no uso de outras linguagens artísticas. Assim, menciona-se no artigo a linguagem cinematográfica, elaborando historicidade na narrativa, e corporeidade sonora das imagens, onde se situam as marcas musicais. Pela trama literária, estará marcada o que apontamos como temporalidades múltiplas, que escrev
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