A novela “O recado do morro” de Guimarães Rosa, pertencente ao ciclo de O corpo de baile, é “a estória de uma canção a formar-se”, como declara o próprio autor. Essa “canção” desdobra-se em dois planos, dois textos paralelos: a narrativa do “recado” e o próprio “recado”, ambas realizando-se por meio da tradução (mediação, transmissão, decifração). De um lado, trata-se da salvação de Pedro Orósio da trama armada por sete rivais, com a finalidade de matá-lo, porque consegue agir no momento exato graças à decifração ou tradução de uma mensagem; de outro, da constituição da identidade do protagonista, cujo trajeto percorrido espacialmente corresponde a um percurso de aperfeiçoamento interior: ao ser capaz de traduzir a mensagem, ele passa da condição de ignorante à de senhor do próprio destino. Neste artigo esse processo de formação é tratado como uma tradução, ou seja, como um processo de construção da interpretação adequada de um texto.
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