Em Primeiras estórias, "Os Irmãos Dagobé" e "Fatalidade" podem ser lidas superficialmente como paródias de bangue-bangue em que os atores não correspondem aos estereótipos do gênero. No entan- to, as marcas da identidade cultural do sertão bravo, tipo faroeste ame- ricano, constituem, sobretudo, o cenário útil para nele enquadrar a di- nâmica espiritual que Rosa frisava como característica da coletânea. Em ambas as estórias, o narrador oculta essa dinâmica: posicionando- se como porta-voz de uma gente ?fatalista?, resignada a sofrer os des- mandos dos valentões em ?Os Irmãos Dagobé?; adoptando, em ?Fatalidade?, a tônica humorística de uma testemunha que se distancia em relação aos acontecimentos relatados, fazendo de conta que não enten- de em que consiste o ?fatalismo? do delegado protagonista. O discurso desses dois narradores, ao mesmo tempo, solicita a perspicácia do leitor ? através da onomástica, das falas dos personagens, dos enigmas lingüísticos colocados na narração ? apontando para um conteúdo oculto a ser revelado. Assim, partindo de causos que questionam a justiça e as leis humanas, ?Os Irmãos Dagobé? e ?Fatalidade?, funcionam como parábolas que convidam a refletir, em particular, sobre a problemática do livre arbítrio e da graça divina, na exploração da terceira margem do Ser Tão, ali onde o cristianismo encontra as fontes greco-orientais da Philosophia Perennis.
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