Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
No espaço aberto entre a filosofia e a literatura, a proposta deste trabalho é basicamente estudar a recepção de temas trágicos na obra Guimarães Rosa, delimitada entre Sagarana (1946) e Tutaméia (1967). Sendo o objetivo geral, assim, verificar a presença de elementos trágicos na obra de Guimarães Rosa, relacionando-os às principais teorias sobre o tema em questão formuladas a partir de Aristóteles (Hegel, Schiller, Schopenhauer, Nietzsche, Unamuno e outros). Divide-se em oito capítulos. O primeiro e oitavo capítulos são constituídos, respectivamente, pela introdução e pela conclusão. O segundo capítulo aponta, sem desconsiderar as contribuições de um Schelling, um Kierkegaard, um Scheler, um Staiger, um Walter Benjamin, alguns aspectos de uma teoria do trágico, tendo sido selecionados textos de Aristóteles, Schiller, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche e Unamuno, procurando-se o literário na formulação filosófica e a filosofia na literatura, na tentativa de definir o trágico. O terceiro trata de alguns aspectos formais e temáticos de Sagarana, estabelecendo, em relação ao trágico, confrontos entre a tragédia esquiliana e o conto "Duelo". O quarto capítulo trata, considerando a configuração formal peculiar do texto, da novela "Cara-de-Bronze", a partir de um confronto entre "Cara-de-Bronze" e Rei Édipo. Abordam-se, no capítulo 5, alguns aspectos de Grande sertão: veredas, com base no pressuposto fundamental de que a categoria de destino, diferentemente definida na obra de Guimarães Rosa, é uma das "ordens" básicas para organizar o fluxo narrativo que busca flagrar a vida, mais que congelá-la em uma imagem fixa e definitiva. Esse conceito não é fixo mesmo em uma única obra. No capítulo 6, dedicado a Primeiras Estórias, discute-se, por meio da interpretação de "Fatalidade", a relação entre o fatalismo e a graça, conjugando-se o estudo das referências à tragédia grega à problematização do agir humano, a partir das ) colocações de Vernant. No capítulo 7, estuda-se, entre outros textos, o conto "Estória n.o 3" (Tutaméia). Nele, o narrador, ao descrever a situação de horror de Mira e Joãoquerque diante do terceiro personagem, recorre à idéia de destino, sem lhe conferir empostação metafísica, e a uma metáfora mecanicista, criada a partir das palavras eixo e roda-mestra.